Monday, November 4, 2024

34 - Pássaros de luz

 

trigésimo quarto - Pássaro de luz

Vida vida corre vida, corre para lá corre para cá e se esvai, se esvai. Engrandece cresce. O pássaro de luz era um menino, uma criança. Que ensinava às pessoas muitas coisas, dentre elas como viver em paz. É fato que não é incomum as crianças ensinarem algo de proveitoso e correto aos adultos, mas dentre as lições mais grandiosas por elas ensinadas estão a alegria e a vivacidade, alegria pela vida e vivacidade da alma.

Não se sabe ao certo por que os adultos se sentem tão diferentes das crianças, como se estes estivessem fazendo atividades mais interessantes que elas, na verdade a vida das crianças se fundamenta no constante descobrir o mundo e a realidade. Há um ponto da vida, entretanto, em que o ser julgando tudo conhecer cessa com sua admiração do mundo, é neste momento em que não somente a admiração das coisas novas se acaba como também aquela que é direcionada às coisas já conhecidas. Sim, pois estas últimas, a pesar de terem sido vivenciadas são constantemente repassadas de maneiras diferentes.

Este menino era de luz porque de seu corpo emanava maravilhosa luz branca, não cegante senão agradável aos olhos de quem o via, no entanto eram poucos os que o conseguiam enxergar.

 

 

     

           

 

  

    

 

 

 

      

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

33 - Aqueles que não souberam ouvir

 

Trigésimo terceiro conto: Aqueles que não souberam ouvir

 

Na suposição de que houvesse no mundo uma só cultua construída em conjunto por todos os povos, nações que em conjunto erigiriam uma só verdade, um só pensar, chegaríamos ao consenso de que o mundo seria um tanto monótono. Para que esta trágica desventura não ocorra existe no mundo a pluralidade, ora estas, sendo todas as desventuras trágicas devemos nos ater que esta seria uma desventura como qualquer outra, tão triste, enfadonha e terrificante quanto as outras.

Pluralidade de idiomas, modismos, tipos, e receitas, tudo partindo das idéias. Assim é o mundo. Neste contexto encontramos dois sujeitos na calçada de uma pequena cidade do interior, conversando amistosamente:

- Então Carlos, conforme eu estava dizendo, antes deste interlocutor estranho interferir nossa conversa para fazer esta introdução loquaz e profunda, acho que esta cidade é um tanto estranha. – Falou o primeiro que era um sujeito de extrema obesidade com cabelos de roqueiro e muita dificuldade para falar por causa de sua grande papada e certa tosse da qual era acometido periodicamente, mesmo em tempos de calor.

- Definitivamente Luiz, não vejo grandes motivos para alarde, nossa cidade é por vezes estranha, mas não vejo nada que seja motivo suficiente para criar alarde. – Disse o outro que era um sujeito de extrema magreza e olhos esbugalhados de tão saltados da face que eram.

- Não vê motivos? E os casos de extra terrestres? E as lendas de almas penadas de que nos falam os caboclos das redondezas? E os artistas excêntricos do centro da cidade? E as histórias de homens que por motivos desconhecidos se tornam metade animais metade homem? E as mudanças climáticas repentinas inesperadas por aqueles que mais conhecem os fenômenos climáticos? E as histórias de homens que levitam, conversam com cavalos e têm poderes tele-cinéticos? Quê dizer de tudo isto?

- São baboseiras que contam para deixar mais abismados os mais fracos.

- É certo porém, que por traz de uma asserciva infundada há alguma intenção, seria esta intenção simplesmente assustar? Quê ganha o sujeito que pretende assustar senão um falso prazer, ver o outro crer em sua mentira nada traz.

- São todos uns mentiroso de merda! Que raiva tenho deste que ficam inventando tais besteiras! – Falou o magro totalmente conturbado por um aceso de ira, que o outro não esperava, e que não esperando fez uma cara pasmada e estática.

- Não há necessidades de tantos insultos, lembre-se que um homem sábio nunca confia totalmente em suas próprias idéias.

- Sempre acreditei esta ser uma cidade normal.Luiz, nada destas idéias loucas vão entrar em minha mente.

- Não são apenas idéias, as lendas e mesmo os mitos surgem de um princípio verdadeiro, mesmo que sejam códigos diferenciados de linguagem, como linguagem metafórica ou coisas assim.

Após esta breve e cordial conversa entre Luiz e Carlos um estrondo estonteante surgiu ao redor, parecia uma bomba, mas na realidade era o princípio de uma música bombástica que um dos vizinhos tinha o hábito de ouvir no último volume de seu aparelho de som super-potente.

Apos um susto de grandes proporções decidiram se afastar daquele lugar, pois o barulho da música era de tal modo ensurdecedor que se acaso ficassem poucos minutos à mais ali certamente teriam sérios problemas de tímpano e em todo o aparelho auditivo. Foi o que de fato ocorreu, pois a partir deste dia Luiz e Carlos foram acometidos d surdez parcial momentânea, era momentânea justamente porque não era contínua, ora estas como explicar algo tão fácil de se entender? Em certos períodos não ouviam, e logo a capacidade auditiva retornava ao normal. Isto foi motivo de muitas situações inusitadas, pois começavam por vezes a palestrar com pessoas, e de maneira imprevista eram acometidos por esta desagradável ocorrência. Foi incontestável a confirmação desta contundente e desconhecida doença, fato notório entretanto é que mesmo tendo sido considerada uma doença era bastante proveitosa, pois haviam momentos em que não queriam escutar o que os outros tinham a dizer, e quando calhava de não estarem em um ambiente de conversa proveitosa e lhes ocorria a tal ausência de audição ficavam até felizes, porém não deixavam transparecer este estado de exaltação para não desagradar os circunstantes com os quais confabulavam. Vamos agora presenciar uma destas situações.

- Somos todos uns loucos! – Proferiu o professor Grausélios, um professor de filosofia de certa universidade, que neste momento trocava idéias com Carlos e Luiz.

- Sim, até certo ponto conservo a mesma opinião... – Confirmou Luís após tossir por cerca de um minuto, a ponto de ter de receber o auxílio de seu comparsa Carlos, que com fortes tapas em suas costas o auxiliou a respirar com maior tranqüilidade. – Entretanto sou do partido de que a loucura têm lá certos limites.

- Calma meus amigos, vamos manter a palestra em seu caminho mais adequado, veja bem Luiz, o homem, na sua busca pelo mundo muito se aproxima de caminhos obscuros, perpassa todo o sofrimento, muito erra até encontrar a glória. A vida têm uma infinidade de ritmos e o ritmo da loucura está tão próximo do ritmo da genialidade que sequer percebe-se a tênue diferença, se é que realmente existe alguma diferença.

- Professor Grausélios, - Disse Carlos já um pouco conturbado com aquelas colocações, que em sua linha de raciocínio não tinham nexo. – Não entendo definitivamente o fato de o senhor colocar duas idéias, que imagino serem antagonistas, tão próximas uma da outra. Que raios o partam! É uma verdadeira falácia isto que o senhor está dizendo, acho mesmo que a tua filosofia chegou a tal ponto, que não tendo mais o que ultrapassar contentou-se por inventar besteiras das mais diversas, por isto transformou-se numa loucura. Não quero insultar-te, mas o senhor, mesmo sendo relativamente novo caducou. Quantos anos têm? 40? Pois é, e ainda por cima têm apenas esta idade, pobre coitado, que tua família e teus companheiros tenham piedade de tal alma.

- Quantos exageros meu amigo Carlos, não é necessário tanto para refutares minhas idéias, basta dizer que não concordas e pronto.

- Pois então: não concordo! São esquisitices do senhor.

- Quem me dera então, meus amigos Carlos e Luis, se todos fossem assim pouco esquisitos, o mundo certamente seria um pouco melhor, e não constituído apenas de pessoas que se adequam aos moldes propostos pela sociedade.

- Neste aspecto devo concordar com o professor. – Falou Luis. enviando um olhar comprometedor e acusador à Carlos, fazendo com que ele se sentisse levemente constrangido por descordar por 90% do que dizia Grausélios.

- Se você concorda comigo é porque o que digo faz sentido. O objetivo do homem no mundo qual é? Quais são os sonhos que mais almejamos em nossas vidas? Quais são, das profundezas de nossas vidas, as coisas pelas quais devemos lutar para conquistar? Existe algo para conquistar? Por que o ser humano não consegue viver sem criar metas? O quê é a realidade? Qual é o sentido da tua vida? Qual é a tua filosofia de vida personalizada? Meus queridíssimos colegas, a vida se fundamenta no conhecimento que o homem cria para si mesmo e não simplesmente do conhecimento que absorve de fontes externas. Por isto a vida nasce primeiramente na imaginação, já pararam os senhores para refletir sobre o por quê das crianças acreditarem tanto em suas próprias imaginações? Por quê as crianças brincam tanto e são tão felizes? E quando adultas e idosas são tão tristes e enfadonhas. Por que tal sorte de desgraça ocorre com toda a humanidade? Oh! Quantas desventuras não serão devidas à falta de capacidade imaginativa. Chego a dizer que a vida é a própria imaginação, tenhamos meus amigos consciência disto. Viva a imaginação!

- Viva! – Gritaram os outros dois em uníssono, mesmo tendo sido acometidos durante toda aquela larga palestra de uma surdez temporária, o que para Grausélios passou despercebido pois conseguiram dissimular magistralmente que estavam ouvindo tudo, pois enquanto Grausélios falava faziam feições de pessoas super atentas, os olhos até ficaram meio avermelhados de tanto esforço que faziam por manter-los no nível máximo de abertos, as pálpebras ficaram até relativamente doloridas, a sorte foi que a surdez havia se dissipado justamente no momento em que o professor proferira: Viva a imaginação! Isto correspondeu à um tempo suficiente para raciocinarem em velocidade fabulosa e responderem aquilo que responderam.

- Notei, meus queridos. – Retornou Grausélios com grande enternecimento, por se sentir correspondido. - que vocês são dotados de grande força de entendimento, vejam vocês que tais tipos de pessoas não se encontra comumente, por isto quero parabenizá-los.

- Obrigado senhor professor, mas no momento acho que estamos de saída, justo porque temos certa pressa para tal e qual compromisso, muito obrigado pela palestra, creio que estejamos agora verdadeiramente transtornados, err... quer dizer: transformados pelas elocubrações de importância preponderante à qualquer ser humano. Bem, devemos nos ir, nos vemos por aí. Thau! – Falou Luís utilizando uma capacidade pantomínica que até então desconhecia em si mesmo.

- Já que vocês têm presa fiquem com meu contato pois assim poderíamos confabular muitas outras vezes mais, muito obrigado, adeus.

E assim, a dupla foi para um lado enquanto Grausélios extremamente satisfeito direcionou-se à faculdade a dar suas aulas. Fato foi que nem Luis nem Carlos entenderam o que o professor falava naquele momento áureo e culminante de sua palestra, e tampouco queriam buscar por entender, pois este foi mais um daqueles momentos em que julgaram interessante conciliar a surdez temporária como forma de um auxílio para não ouvir o que queriam ouvir. Quê é senão isto que fazemos nós em nossas vidas, quando não mais brincamos como crianças, depois de transformar-mo-nos em adultos e idosos patéticos e mórbidos, donde a vida já perdeu a graça por uma extrema falta de imaginação, e o mais importante: acreditar na imaginação, e com sabedoria saber ouvir e procurar entender aquilo que é diferente e aparentemente louco.

32 - A vingança do Dr. Loc

 

Trigésimo segundo - A vingança de Dr. Loc

     Numa cidade todos eram verdes, suas cabeças eram desproporcionalmente maiores que o corpo, os leitores julgariam que  eram marcianos ou algo deste naipe, entretanto eram terrestres e haviam sido transformados por um cientista louco. Seu nome era Dr. Loc Um homem de olhos esbugalhados com uns óculos grossos como uma lupa. Todos desta cidade eram além de tudo pessoas normais, no que se refere ao cérebro que não havia sido transformado, não obstante havia certa transformação que lhes haviam desagradado, motivo pelo qual muito deles haviam telefonado para o cientista para fazer reclamações, estas situações desagradáveis era devido justamente ao fato de que seus braços não eram mais convencionais, senão haviam sido transformados em formas muito similares às raízes das árvores, o que dificultava para que pegassem alguns objetos de maneira mais minuciosa.

      Passaram-se 100 anos, e depois que o Dr. Loc morreu seu sucessor, o Dr impertinent decidiu que os habitantes daquela cidade realmente estavam com a razão e fez por mudar aquela situação, transformando-os todos em homens elefantes, mantendo como antes seus cérebros de seres humanos, o que foi uma má idéia já que todos tendo maior envergadura que o cientista, que era uma pessoa bastante magra, e até de um aspecto sombrio e cadavérico, aproveitaram-se deste fato para entrar em rebelião e amassar o cientista sucessor em uma massa disforme no meio de seu laboratório. Neste momento deram conta de que não dispunham da fórmula para retornar ao normal, e que o único que poderia isto fazer era o próprio cientista Impertinent que haviam matado sem dó nem perdão. Ora estas, estavam pois sós no mundo em forma de homens elefantes, centenas e centenas, até milhares de homens elefantes andando para todos os lados nas ruas sem saber exatamente o que fazer diante daquela situação que parecia irreversível, bem a princípio ficaram muito tristes, depois perceberam que havia algo de errado, e isto foi definitivamente perceptível quando um deles proferiu a seguinte pergunta: - Você não acha que há algo de errado? – A partir deste dia todos acharam que além de suas situações, extremamente desagradáveis, serem irreversíveis notaram que estavam vivendo demasiado tempo, pois a via ia até no máximo, quando muito uns noventa anos, e vejam só que hilário, quando chegaram aos novecentos anos de idade concluíram definitivamente que estavam vivendo acima da média, esta conclusão pode ter demorado tanto para vir a tona por causa de uma certa falta de intelecto, o que é mais que óbvio, mas imaginaram também que esta seria uma das vantagens de ser elefante, a outra vantagem seria poder ter matado o cientista que os havia tão perfidamente transformado-os naquele ser mutante e estranho, o que na realidade não era vantagem, senão desvantagem pois ele era o único que possuía a fórmula secreta para lhes transformar em homens novamente, a verdade é que uns nem queriam mais retornar mais a ser homens, pois julgaram ser mais interessante viver naquela forma de tamanho estrondoso e poder viver por tempo infinito que viver como homem e chegar à uma morte apenas com noventa anos.

       Houve uma grande manifestação em torno desta questão na qual os que eram do partido dos homens votavam por inventar um novo cientista que os pudesse retornar na forma convencional, os outros simplesmente queriam continuar como seres mutantes homens elefantes. A manifestação foi um grande sucesso do ponto de vista de difusão ideológica, entretanto não puderam explicar ao certo como fariam para inventar um novo cientista, já que os cientistas eram os que tinham a função de inventar.

      Então criaram um concílio, e resolveram eleger um elemento para ser o cientista, o que resultou em tragédia já que sendo considerado cientista apenas pelo fato de ter sido elegido pelo concílio resultou que não dispunha de bagagem científica, e acabou por inventar qualquer fórmula par satisfazer a parte da comunidade de elefantes que queria voltar ao normal. Todos fizeram cara feia, porque o cientista era de fato um falsário, aliás todos que se colocaram sob sua supervisão pareceram intencionalmente querer iludir-se em torno de um ideal que no fundo sabiam ser impossível, mistificado e ilusório.

      Todos que se dispuseram ao novo tratamento ao invés de homens transformaram-se e pés de laranjeira, e agora não podiam falar tampouco locomover-se. Não obstante todos haviam esquecido que o anterior cientista Dr. Loc havia sido esmagado por suas próprias experiências em uma campina silvestre próxima à granja da cidade, justamente onde haviam crescido estas novas e excepcionais árvores de laranjeira, fato que fez com  que seus resquicios quase inexistentes, em formas de sobras de DNA entrassem pelas raizes das árvores tomando-lhes toda a estrutura, e criando tal tipo de revolução, que as próprias árvores acabaram por serem tomadas pela personalidade de Dr. Loc. Fato que deixou os Eletanto-campônios bastante abismados, pois creram piamete que aquelas árvores fosem normais, mas viram após certo tempo, ao chegar respectivamente o tempo da colheita que ao invéz de frutos sadios aquelas árvores davam horrendas cabeças de Dr. Loc, e todas falavam o qie queriam quando bem quizessem. Era um caos, pois em cada árvore haviam no mínimo umas quinze cabeças. Tudo foi rezolvido com persuação, pois Dr. Loc era uma pessoa inteligente, que dispunha de razão e discernimento, fora feito então um trato em que ele todas as suas cabeças seriam colhidas como se fossem frutas maduras, e ao invéz de irem ao galpão das frutas iriam para uma espácie de recipiente de conserva com um sistema específico de robótica imbutido no qual seria permitido todos eles locomoverem-se como robôs na parte que seria o corpo.

      Dr. Loc finalmente conseguiu o que queria, seus restos foram reaproveitados e ele frutificou na exata correspondência deste termo, é certo que um gosto de laranja desagradável sempre ficava em sua boca, mas isto não foi o sulficiente para impedir-lhe de inventar finalmente a formula definitiva a que traria d volta todos os seres como humaos, sãos e salvos, inclusive ele mesmo, o que foi a maior novidade, mas foi considerado como fora de moda e até renegado, pois todos queriam agora viver como elefantes, ou árvores. O que concedeu ao cientista a fama de uma pessoa ultrapassada e perdida.

31 - Noites estreladas

 

Trigésimo primeiro conto - Noites estreladas

      Certa feita tive um sonho, sim, almejava ardentemente alcançar as estrelas nas noites gélidas e estreladas de minha cidade natal, uma cidade pequena e rural. Alcançar as estrelas? Mas que coisa mais fantasiosa, uma ilusão que minhas vontades mais sonhadoras criaram, para dar-me quem sabe algum deleite na vida, sim: deleite! Pois é isto que fazem os sonhos em nós, nos fazem ficar com aquele olhar vago e impreciso, um olhar apaixonado pelo prazer de sonhar, sonhar por si só já vale a pena.

       Que maravilha eram aquelas noites em que eu mais um ou dois amigos ficávamos ali, durante a noite somente a olhar as estrelas e a imaginar que existiria nestes mundos distantes, cogitamos civilizações e mundos estonteantes, onde tudo era diferente, e ainda, nos meus sonhos suscitava-se a imagem de que as estrelas seriam reinos de seres de luz, o que quando comentava comigo mesmo atiçava minha fértil construção sonhadora, então logo pensava que seriam estes seres de luz, como se comunicariam entre si em seus mundos de grande esplendor.

       O céu, por certo, nos deixa tão pequeninos quando admirados que perdemos a consciência de nós mesmos quando nos prostramos a contemplá-lo. Até a própria vida corriqueira, nestes momentos parece perder seu tamanho de importância. Entretanto é certo que em alguns momentos quando ali contemplava que a imensidão de brilhos e luzes diversas me perdia em min de tal maneira que parecia haver me transportado para lugar distante, assim como quando ouvimos uma música de caráter devaneante parece que somos transportados no tempo e no espaço até que num ponto não notamos sequer o que ocorre na música mas sim o que se passa em nossa mente, da mesma maneira, não sei se influenciado pela imensidão do cosmos ou o fato de infindáveis estrelas nos proporcionarem uma imagem estética repetitiva e extasiante perdemo-nos em nós mesmos entrando numa profundidade de consciência fora do comum.

       É por isto que almejava em meus sonhos alcançar as estrelas, até que um dia mudei para a cidade grande, e ali, não sei descrever exatamente por qual motivo, acabei por perder este gosto seleto pela contemplação daquelas noites estreladas, sim, a vida acabou por ficar atulhada de outras questões a resolver, questões estas que julguei prementes. Noto agora, sob a luz da velhice, que muito perdi de meu tempo deixando este hábito de lado, pois o que faz a vida são estes momentos de devaneios profundos, que fazem com que criemos os valores mais importantes de nossas vidas.

        Infelizmente muito tempo perdi, quando resolvi todas as questões da minha vida, entretanto estas não eram as questões nevrálgicas e por isto disse que muito tempo  desperdicei num vazio cheio de coisas vazias. Por vezes ainda parecia haver uma escassa lucidez, pois mesmo na cidade, por incrível que pareça, no final da tarde, no momento em que começa a escurecer uma ou outra estrela ousam aparecer no horizonte como se a natureza estivesse resoluta em dizer: - Vejam só, eu estou aqui! – Talvez inconscientemente eu tivesse esta idéia, pois ainda que não me preocupasse mais em ver estrelas, por vez ou outra olhava de relance algumas, como se fosse uma atitude indiferente e às vezes chegando a sentir certa raiva, enfadado, na verdade esta raiva era comigo mesmo, e colocava este sentimento retrógrado nas outras coisas, até nas estrelas que outrora representavam luz e vida. Mas a vida anda, e nós andamos com ela, de modo que as mudanças são diversas, e acompanhamos estas mudanças conforme nossa capacidade de adaptação e nossa força de vontade para mudarmos outras situações e efetivarmos com força construtivas nossos ideais e nossos projetos.

      Depois de certo tempo, não sei, talvez vinte anos, ou mesmo trinta, o fato é que eu notei o quão perdido estava dentro de meus ideais, percebi então que os ideais, aqueles em forma de sonho, que tinha enquanto criança eram mais  verdadeiros que tudo o que pudera perpassar na vida, digo isto porque enquanto criança sentia-me em jubilo verdadeiro, em alegria sincera com sorrisos matreiros de sonhos encantadores. Assim que na infância vivenciei meus sonhos, e na fase madura não pude sonhar vivenciando um mundo de grande praticidade e parca vida, ora estas, me pergunto agora: Quê é que faz a vida? Quê representa vivacidade?  Acaso não é o sorriso espontâneo? Ou mesmo a capacidade de extasiar-se diante do mundo? Pois então, numa sombria nostalgia estas elocubrações recalcam na insensatez humana, de ao longo da vida perder esta capacidade. Ou deveria dizer naturalidade?

      As estrelas nunca sumiram do céu, o que sumiu foi o olhar que eu direcionava à elas, aquele aspecto sintilante, brilhante e pupuleante sempre esteve ali, todas as noites e também durante os dias obumbrado pela luz do sol, sim: de maneira efetiva o céu era parte integrante de minha vida, de tal sorte que tinha grande importância no conhecimento que empreendia de min mesmo, pois contemplando-o e fantasiando eu chegava não só a conhecer uma realidade externa como também uma realidade interna.

      Hoje ainda creio que o sonho pode ter sua importância em sonhar, não precisa de outra coisa senão da satisfação e deleite que proporciona. Talvez também por isto não tenha conseguido exatamente pegar uma estrela, o importante é que depois de tanto tempo tendo por muito tempo perambulado por um mundo perdido e cheio de nadas, me abstive e notei que em nossas vidas a única coisa que não podemos perder é a naturalidade de deleitar-nos com nossos sonhos mais fantasiosos.

Friday, November 1, 2024

30 - Em outro planeta

 

Trigésimo conto: Em outro planeta

 

      No início uma absoluta escuridão reinou no universo, por muito tempo, não se saber quanto ao certo, até que um vento soprou e fez um fogo queimar, pois sem este vento aquele fogo não queimava, e ainda ficava invisível sob a escuridão. No momento em que o vento soprou apareceram pontos luminosos, de um vermelho ardente, de onde nasceu o calor. Calor este que não só representava as labaredas do fogo que queimava como também o amor no mundo.

      Este calor fez com que o universo, antes um vazio escuro e interminavelmente oco ficasse cheio de vida. O calor que animou o mundo parece olvidado, deixado no esquecimento, as pessoas de si cuidam e não prestam a mínima atenção no sofrimento alheio, quantas pessoas parecem ter nascido mas ainda não ser instituídas de vida, a verdadeira vida, assim ocorre que no mundo o que as pessoas mais precisam é uma orientação, para seguir os caminhos da verdadeira vida, por este mesmo motivo todos andam ansiosos a busca de  nada e fundamentados num nada.

      Dienis refletiu sobre esta problemática durante algum tempo, mas estava com muita pressa e não pode mais ficar a filosofar, teve logo de arrumar sua mochila de viagem, pois uma longa jornada lhe esperava. Estamos num futuro longínquo, em planeta distante do planeta terra, planeta tecnologicamente muito mais evoluído, entretanto falando-se do aspecto moral não é confiável crer, que aquele planeta fosse mais avançado que a terra, havia muita confusão e desentendimento entre os governantes, o que ocasionava transtornos dos mais diversos aos habitantes. Deflagravam-se lutas e desavenças entre os soldados, e quem pagava o preço destas guerras era a gente comum que não tinha muita culpa na questão das políticas internacionais serem tão desajustadas como eram.

       Muita gente que lê este conto pensará que é algo similar ao que passa na Terra, não pode-se comparar muito, já que sendo aquele planeta demasiado desenvolvido tecnológica e cientificamente ocorria que as proporções das guerras eram catastróficas e amplas quando comparadas ao nosso planeta. Assim, mesmo sabendo dos muitos problemas que ocorriam em seu país Dienis não podia resolvê-las, a solução era suportar uma série de situações que não lhe eram favoráveis, e isto sempre o fizera com convicção e até um certo otimismo, ainda que em muitas das vezes não haviam resultados considerados bons, mas que em todo caso serviam como aprendizagem.

      Tendo colocado tudo o que precisava na mochila pegou seu veículo de transporte, que seria algo equivalente à uma moto em nosso planeta, com a diferença de que era bem maior e que voava os céus a vertiginosas velocidades, muito mais rápidas que nossos aviões mais rápidos. Voou muito ao alto e seguiu à frente, passando muitos países em muito pouco tempo, era incrível a visão que tinha lá de cima, podia ver muitas cidades que por breves momentos passavam por seu campo visual, via as maiores construções parecerem pontinhos ínfimos. Dienis ficou vislumbrado com aquilo, após pousar aquela máquina se encontrou em local bem distante do qual havia iniciado a viagem com alguns familiares, com os quais tinha de trocar importantes informações, sobrou tempo para declarações sentimentais, pois muito os amava e sempre que podia demonstrava seus sentimentos da maneira que julgava mais adequada para cada ocasião, aquela era uma ocasião de extrema pressa, pois sabia que estaria sendo perseguido por soldados, que tendo verificado uma nave voando estariam atrás para destruí-la o quanto antes, infringira a regra de não passar os limites de seu país. No entanto o fato é que estava tentando um grande empreendimento, além de ver seus familiares novamente, os quais já faziam muitos anos que não via, tentaria prosseguir a viagem até um país mais longínquo todavia, que era resguardado ainda por outros muitos soldados.

      Notando a premência do perigo por seu sinalizador interestelar julgou conveniente ir-se dali o quanto antes, despediu-se dos familiares e subindo em sua nave fugiu a toda velocidade daquele lugar, após certo tempo de viagem finalmente se consumaram seus pensamentos mais receosos. Sim, era certo que haviam muitos perseguidores, dos mais cruéis e violentos, Dienis era muito habilidoso com aquela maquineta voadora, havia a possibilidade de ele escapar ileso, e voava tão magistralmente com aquilo que se aquela perseguição tivesse sido filmada por algum cineasta julgaria que ele e a máquina constituíam uma só coisa, tamanha era a harmonia que se formava entre os dois.

      Ora virava bruscamente à esquerda, em velocidade vertiginosa, entrando em túneis que se dispunham na constituição da cidade, ora à direita pegando atalhos e passagens que confundiam seus perseguidores malvados e impiedosos, que não dispunham de escrúpulos ou valores humanos, por momentos via-se em extremo perigo, mas em outros conseguia esquivar-se de uma maneira quase que artística de seus oponentes.

      Dienis tanto obstinou-se nesta fuga que por fim se viu livre de todos os soldados, logo encontrou à poucas centenas de quilômetros a cidade que almejava chegar, e que até então nunca tivera coragem de empreender a viagem. Que país era aquele que tanto almejara chegar, com o qual nunca travara contato anteriormente, que tinha uma beleza tão bem proporcionada, uma beleza tão grande, uma beleza tão bela que chegarva a extasiar-se, embasbacado com a quantidade de cores que tinha diante de seus olhos, em tons vivos e vivificantes, era um belo país por certo. Seria um mundo encantado? Ao descer sua nave notou que os diferentes sons que se propagavam nos arredores, provindos de animais silvestres e mesmo das forças da natureza formavam um só conjunto orquestral, tudo soava de tal maneira que parou por um instante e fechou os olhos prestando atenção à todos os detalhes daquela sinfonia natural, sorriu com  espontaneidade, inesperadamente, ficou surpreso com seus próprios sentimentos, e olhando às cores do céu que demonstravam tonalidades arroxeadas vislumbrou uma beleza desproporcional à sua capacidade de entendimento e assimilação, tendo consciência deste fato julgou-se pequeno diante de tudo, mas logo percebeu que era parte do todo, e que por isto compunha, com sua pequenina contribuição, sua parte naquela orquestra, naquela pintura que era aquele país. Seus olhos brilharam, seus ouvidos se extasiaram e seu coração pulsou como nunca antes havia ocorrido. Creu piamente que tudo o que via, como por exemplo aquelas nuvens de cores diversas iluminadas pelos três sóias que naquele planeta existiam não só se encontravam à grande distância dele como também eram ele próprio, de tal sorte este pensamento perpassou sua mente que ele imaginou não só entrar em contato com o mundo ao seu redor como também ser o próprio mundo  Neste momento, entoado por estes sentimentos disse em voz alta: - Eu sou o mundo! -  Ninguém ouviu pois ali não havia ninguém ali, a não ser um vento que insistia em correr de um lado para o outro fazendo com que seus cabelos esvoaçassem conforme sua vontade, vento este que fazia as arvores rugirem e suas folhas cantarem tristes canções, vento este que fazia os mares bradares e suas ondas cantarem belas músicas, vento este que por vezes diversas derrubava barracas mal pregadas e até fizera por vez e outra surgirem redemoinhos de ar dos mais fortes, vento este que fizera num dia longínquo do passado queimar uma chama, e a partir de então surgir um fogo no mundo, o fogo da vida, o calor do amor, que era supostamente o que sentia Dienis neste momento, por tudo o que estava ao seu redor e por si mesmo, pois quem não se ama não pode amar ao que esta fora de si, amor este que se impregnou no universo, e que só não enxerga isto os cegos que fazem guerras por cobiça e interesses diversos, causando tragédias das mais diversas. Pois o que há de mais precioso é a vida, depois a busca pelo aperfeiçoamento desta vida que é o encontro do amor, o mais alto grau de humanidade, quem causa mortes por certo não pode amar.

      Esta foi sim, uma viagem de riscos diversos. Que viagem é esta senão a viagem de nossas vidas? Que país é este senão o país da felicidade?

29 - O céu de Pedro

 

Vigésimo nono conto: O Céu de Pedro

-             Onde estou?

-             Você está no além.

-             Além do quê?

-             Além dos limites que o sr humano julga existires para a vida.

-             Não, isto é impossível! – Retrucou nervosamente Pedro – Eu ainda estou vivo! Não Vês? Acaso pensas que não tenho discernimento?

-             Não meu querido... – Disse o anjo – O fato de ainda estar vivo é mais que natural, já que a vida continua.

-             Este ambiente é tão claro. – Falou olhando ao redor, interessado em algumas nuvens que por ali havia. – Até parece que estou no céu... Será algum sonho?

-             Sim, justamente isto, um sonho, pois nos sonhos temos breve acesso à 4a dimensão, e por certo estás no mesmo ambiente que dantes com a diferença que não mais preso ao corpo estás, podes voar livremente por aí.

-             Voar? Estás louco? Não vês a altura que está este lugar?

-             Não se preocupe, se acaso houvesse algum perigo, este seria qual? Morrer novamente? Não, isto já fazemos na terra, pouco a pouco, morremos diariamente perdendo nosso tempo com atividades vãs, por vezes até destrutivas. De que vale assim viver? Isto é morrer e não viver, ficamos por ali perdidos, sem saber que fazer, ora estas, esta gente sem projetos, outros de coração endurecido começam a dizer loucuras e por aí perdem-se...

-             Quem são aqueles ali? -  Pedro apontou para uns sujeitos que em roda tocavam alguns instrumentos musicais.

-             Ora estas Pedro: Estes são os tocadores de harpa e flauta, sabe, por lá em baixo, se houvesse maior interesse por música de  qualidade toda gente seria mais feliz, e até mais benévola, pois música e artes em geral é coisa que diz respeito ao espírito à alma, e chega ao coração de forma incisiva e avassaladora.

      Assim que os dois seres espectrais foram, pelas nuvens andando até chegar à certa parte daquele emaranhado de nuvens onde havia grande floresta, e lá era respectivamente a morada dos mortos, aliás, onde os mortos mais vivos que nunca executavam uma série de atividades, uns pegavam frutas de cores variadas, um sujeito tocava uma pequenina flauta, cujo som produzido provocava em Pedro sensação de grande conforto, era como se os sons fossem uma espécie de energia e não simplesmente audíveis. Neste momento Pedro se deu conta de que todo o seu corpo não era exatamente um corpo, mas sim uma consonância de experiências de diversas vidas vividas no planeta Terra, exatamente 357 vidas, das quais, tendo lembrado de tudo o que passara, a única coisa que podia absorver de realmente útil, além de todo o conhecimento é o amor, um sentimento intenso, incomparável com qualquer outro tipo de experiência. Se esbaldou neste momento em lágrimas que se derramaram como chuva por todo seu rosto, abraçou o anjo guia e disse:

-             Anjo guia: Agora realmente, graças à seu auxílio, e talvez aos sons estranhos deste homem que toca esta pequena flauta, tendo lembrado de uma série de reencarnações, estou tomado de uma sorte de sentimento muito forte, indescritível, que me fazem ainda compreender que o mundo é realmente belo, que o bem é o caminho linear, a trajetória que todos devem seguir, e... Infelizmente percebo quanto tempo perdi com futilidades e até besteiras nas 357 vidas que vivi na terra. É certo dizer que nos interstícios das vidas pude sempre cair na real, e me dar conta de que tinha feito isto ou aquilo de errado, e que aquela outra coisa deveria ser corrigida com urgência. No entanto é fato que quando me encontrava na carne nunca entrava em contato com minha consciência espiritual para ver as necessidades prementes, caindo assim nas ilusões da vida mundana.

-             Veja só! Finalmente viste quem és e onde estás. Vê quantos pássaros cantam em uma alegria inacabável? Acolá os animais campestres vão para todos os lados em busca de seus alimentos, ora estas, não notas acaso que este lugar é o mesmo que o lá de baixo? A única diferença está no fato de que aqui o homem não deturpa seu contato com a natureza, aliás o homem é a natureza. Por aqui vamos aos poucos percebendo que tudo é integrado numa só unidade. É a alma que fala: saudades sempre ressurgirão num insight melancólico de imagens do passado, no presente nos embebemos da mágica da alegria e da profundidade de amar à Deus e à todos. Sempre crendo com força, coragem e perseverança em expectativas de futuro promissor. O porvir é um projeto que mantém a luz do ser humano acesa.

-             Peço perdão, oh grande anjo, que me seguiste por sendas duvidosas na terra, enquanto eu errava e perambulava como louco perdido, tu de joelhos orava para que Deus me socorresse. Sou por certo, por este motivo causador de muitas injúrias, motivo de desagrados e até desaventuranças das mais diversas, e agora, nesta forma sutil posso perceber com nitidez qual o peso de tais procedimentos, atitudes dúbias e niilistas, sem valor humano ou divino. Quem sou? Por que estou acima das nuvens e não abaixo da terra? Peço perdão... Peço perdão...

      Pedro então, tomando consciência do que é realmente aquilo que se chama vida cai prostrado de joelhos diante do anjo, ainda chorando, mas agora em prantos mais graves, num momento áureo e crucial de sua existência, o que deixou outros anjos que perambulavam por perto com atividades rotineiras extremamente sensibilizados com a comovente cena, estes anjos entreolharam-se, e uns até o lenço pegaram para enxugar algumas lágrimas. Pedro lamentou profundamente seus erros, o que não era o suficiente para corrigi-los mas sim o primeiro passo, e bastante acertado, para seguir num caminho proveitoso de correções. Seu pranto fora tão alardeante, que chegou por momentos a aturdi-lo de tal forma a provocar certa tontura e vertigem. Tanto suplicou, tanto rogou que o anjo se comoveu tão profundamente quanto se arrependera ele, e, num ato de benevolência abençoou-o permitindo nova encarnação. Uma nova vida para a reconstrução de vivências de paz e amor, onde tudo seria válido como experiências de aprendizagens, ainda que sombrias e denegridoras seriam úteis como aprendizado das sendas da vida. Pois a vida é isto: aprender e reconstruir novos caminhos.

       Aquele momento ficou marcado na vida de Pedro, pois assim como ele, o ser humano em geral tende a fugir de suas nevrálgicas questões, dos dilemas mais profundos de seu consciente. Procura escapar disto de maneira dissimulada, disfarçada, mascarada. Assim leva toda a vida fingindo estar extremamente intrigado com novidades das mais diversas, esquecendo-se de que na vida o que há de mais importante são as questões perenes da vida.

      A felicidade e o amor sinceros serão encontrados somente no momento em que nos prontificarmos à enfrentar, com coragem e determinação as questões que nos atordoam, que nos assolam nas profundezas de nosso íntimo. É lá que estão enterrados os miasmas dos quais fugimos, de modo que assim parecemos uns patetas fujões. A evasiva ocorre não à toa, mas sim pela dificuldade que há em olhar diretamente nos olhos da problemática, pois quem olha nos olhos não enxerga as aparências mas sim o espírito, a essência daquilo, os olhos transmitem a verdade de uma maneira tão intensa e incisiva que os mais longos discursos, as palestras mais acalentadas não poderiam se equiparar ou mesmo chegar próximo desta intensidade de transmissão de verdade. Olhe seus problemas com veracidade, não use as máscaras da vida para ocultar-lhes. Faça como Pedro: Pergunte-se sempre quem és, onde estás. É certo que se fizerdes isto encontrarás tantas novidades há muito ocultadas, que em suma não são novidades senão verdades obumbradas pelas máscaras da vivência humana

28 - Meio embasbacado!

 

Vigésimo oitavo conto: Meio embasbacado!

 

      O homem tava ali, parado como uma árvore, com uns olhos esbugalhados que parecia que iam saltar para fora, olhar fixo, nem as pálpebras nem sequer via-se movimento nas pupilas, que estavam fixas como pedra. Até me abismei um pouco sabe? É... essas coisas assustam um pouco a gente, ver este tipo de louco assim por aí, até parece que esta gente não têm miolo, não pensa direito, e... deixa eles assim por aí pode até ser que não seja nada, mas eu quando vi fiquei pasmo, realmente pasmo. Nunca tinha visto um desses assim. As pestanas começavam a demonstrar expressão, não de pânico pois o susto era meu e não dele, mas sim de uma ternura de doido, pois ele não tinha lá motivos para tal, nem tinha ninguém na frente dele. É, mas sabe que o Lucas  falou que este daí já fazia tempo que tava tendo estas manias, até a tia dele certo dia reclamou e jogou umas e outras blasfemas, e ele? Não... Não ouviu nada. Todos aí dizer que não ouve direito, quer dizer, quando ele ta desse jeito e aí de doido, até assusta, e quem não conhece passa longe.

      Me pergunto se é possível. Quarta dimensão! Penetrar no mistério Divino, um mundo oculto onde estão todos aqueles que daqui já se foram, e ou ficam a perambular por perto ou vão à sendas mais distantes e desconhecidas todavia. Me pergunto se é possível e difícil é satisfazer meu senso crítico, não me basta explicar isto ou aquilo, elucidar e mostrar-me muitos livros e complexas teorias, eu, como um ser humano qualquer, como qualquer pessoa com um mínimo de senso real: Quero ver! Sentir, cheirar, pisas, voar, entremear-se neste mundo que dizer ser o espiritual. Aí então estarei feliz! Não entendo como até os seguidores das mais diversas crenças, muitas vezes se satisfazem com pouco, saciam-se numa crença cega, com razão mas sem a experiência empírica.

      Este é o grande mistério do entendimento cabal: O sentir, ver e vivenciar no sentido real desta palavra não somente as verdades éticas e morais, como também a experiência transcendental, ultrapassar os conceitos deste mundo, ver e ouvir espíritos já mortos, isto é que me satisfaria, e até hoje não me sinto completamente satisfeito por causa deste tormento nevrálgico que não foi solucionado. Se preciso correrei até o pico das mais altas montanhas, sangrarei e sofrerei, mas solucionarei esta dúvida tormentosa, desagradável e essêncial antes de morrer.

      Ali tava ele outro dia! Fiquei até um tempo para ver se ele ia se mexer da cadeira e nada, o homem ficava estático, estagnado, até parecia que tinha morrido. O Lucas falou que era assim mesmo que ele fazia, eu assustei, o sangue até gelou quando imaginei que ele devia tar passando mal ou coisa parecida, mas não, depois de uma hora ele se levantou com um sorriso de invejar, sabe quando cê percebe a sinceridade  no coração, foi assim mesmo, é. E depois eu até perguntei se ele tava bem, e cêis sabe o que ele disse? Que melhor impossível!

      Na vida a maior preocupação deve ser a morte! Evidente, tão óbvio que os que fogem a isto são uns patetas, ou mesmo bem ignorantes. O fato é que fogem por medo de enfrentar as questões mais importantes da vida. Meditar é entrar em contato com a quarta dimensão, faz certo tempo que percebi isto, assim que julgo estar no caminho certo, segundo minhas pretensões, pois meus fundamentos não são meramente teóricos mas sim também sensíveis. Porque na bíblia vemos tantos milagres, tantas visões, tantas luzes misteriosas e sagradas? Porque é uma verdade possível! Não são linguagens metafóricas, são verdades que há muito tempo foram olvidadas pela humanidade, passamos a não saber interpretar a bíblia corretamente, e o mais importante não vivencia-la assim como ela está escrita. Ver luzes é ver luzes, escutar anjos é escutar anjos e disto vou correr atrás, nem que minhas pernas desfaleçam.

      Pois então é este o grande mistério espiritual: correr dentro do caminho de solucionar as questões, pois dizer que no momento da morte tudo será descoberto é muito simplista, aí será tarde de mais, deve-se solucionar o enigma antes, pois se não saber qual é a verdade da vida viverás conforme o quê?

      É agora eu até posso entendê. Mesmo assim, tô meio embasbacado sabe?

27 - Homenagem aos gênios

 

Vigésimo sétimo conto: Homenagem aos gênios

 

     A vida está em constante mudança, ora estamos em situação favorável, ora desfavorável. No entanto tanto numa quanto na outra situação o sujeito que as vive é o mesmo, de modo que sua essência é sempre a mesma, estando sempre em desenvolvimento linear. Uma tristeza imensa toma minha alma hoje, até parece que os dias floridos de ontem não passaram de sonho inócuo, algo há muito dissipado. É detestável chegar ao patamar de não ter nada para fazer, nenhum projeto, nenhuma vontade, nenhuma ambição. Me parece que o ser humano depende disto para sentir-se animado, a alma se embebe de vida quando somos acometidos por novas idéias, vontades ou sentimentos. O novo é uma necessidade do espírito para bem viver, tudo deve ser novo todos os momentos, do contrário a vida se transforma em monotonia e velhacaria. Para que então o homem não perecece em decorrência de sua fraqueza natural, em virtude de sua pasma inatividade, uma modorra inerente à todos, um estado estático e fraco Deus decidiu trazer de vez em quando certos naipes de pessoas que alterariam este modo de viver destrutivo e desvantajoso ao coração humano, assim que prestamos esta homenagem parca e miúda, diante da grandeza de cada um destes músicos. Pois tais foram suas façanhas criativas que nos prontificamos de maneira decidida a embasbacarmo-nos com tamanha grandeza e veracidade de espírito. Que Deus nos conceda ao menos o infindável prazer de conhecermos seus trabalhos, suas obras perenes e suas incontestáveis verdades morais, pois tal é a essência que na arte se incrusta. Os artistas são homenageados através de contos que procuraram retratar através de expressões linguísticas as suas frases musicais de envergadura vasta e latente em nossas mentes, em nossos corações.

Brahms, Elgar Mussorgsky, Hector Berlioz, Smetana, Mahler, Edvard Grieg, Beethoven

      Brahms: Bem, dados jogados à mesa... Qual será o resultado? Aquele que sabe atua conforme sua sabedoria, isto é inevitável. Se sabes tu que todo ser humano vive um inestimável “script”, aventura profunda e tocante, história inigualável de proporções avassaladora. Vive pois o teu teatro, chora a tuas lágrimas e ama os teus circunstantes, agüenta o que te vier e têm a convicção de que estás dentro de uma jornada de grande sentido,  um caminho há de ser percorrido, com princípio meio e fim. Faz como os atletas que correm: percorre a tua aventura, perpassa os dilemas, as amarguras e dificuldades da senda com cabeça erguida, se cair levanta-te e segue, mas por favor, nunca esquece, custe o que custar: lembra-te de que há um nevrálgico sentido na vida, pois a vida... A vida é uma aventura!

      Elgar: Oh! Quanta ternura, quanto!? Quanto... Como poderei descrever? Quanto sentido! Talvez cantando poderia melhor me expressar, pois a música vai até onde a linguagem não pode chegar... Passou-se a tempestade peçonhenta das dúvidas que antes me provocavam tristeza e amargura, quantos males e nadas me abatiam... No âmago de minha vida está o suspiro derradeiro: aquela nota que se apresenta, e ressoa de maneira profunda chegando ao coração, as plantas que em noite silenciosa iluminadas por uma luz mágica de noite estrelada me parecem falar mesmo sem boca para qualquer palavra proferir e mais entendo elas que à qualquer outro que me queira contatar. Serão elas minha própria consciência que voa a silencioso lugar, silencioso porque a profundidade é silenciosa, no abissal fundo do oceano criaturas soturnas vivem um eterno silêncio, nas horas vazias de barulho da noite há tanta vida do espírito que chego à me extasiar com suspiros que saem de meu peito involuntariamente. Estarei eu a chorar? Choro a tristeza do mundo, é na lágrima triste e nos suspiros que antes as provocaram terna e profundamente que sinto a luz do sentir. Óh lágrimas humanas! Chorar a aventura humana, impetuosamente, veementemente, tempestuosa e forte como um touro é esta onda de sentido e certeza que me entra como uma torrente, o sentido da vida... Qual é? Me parece que é chorar... Pois enquanto choro nada mais é necessário, tudo o mais seria brincadeira.

  Mussorgsky: Então penso que a aventura da vida é a todos amar. Tão simples e singelo que não sei como não pude nisto antes pensar.Ela é muito grande, não se resume à isto de forma tão simples, há algo misterioso no ar, que jamais vamos nós resolucionar, pois mistérios foram feitos para se perpetuar. Que dirá aquele que descobrir uma verdade existente para ser um mistério? Terá alguma “graça”a vida deste? O mistério é uma questão nevralgica na vida do ser. Não existindo nenhum mistério faltará certamente algum ingrediente na vida. Fadas, magos, gnomos, elfos, curupira, saci-pererê e caipora. Lendas, mitos, contos e histórias para lá de cabeludas. Que graça há por vezes nestes contos, muitas travessuras, muitas historietas divertidas e interessantes Uma marcha fúnebre é a trama do ar, a trama de nossas vidas: intrincado caminho inter-relacionado que demanda de nós a inteligência e perspicácia para solucionar, pois: Quê é nossas vidas senão o maior de todos os mistérios? O mais instigante! Acorda amigo! Acorda para as questões da tua vida agitar e destrinchar. Se ficares si como moribundo certamente vais desfalecer e perder-te em caminhos inócuos. Num trabalho árduo, como um escravo, cavalos suando e bois carregando pesadas charretes, é assim que vejo a vida meus amigos, viver é tarefa imprópria para fracos, ainda que hajam lá seus momentos banais e descartáveis, outros até desprezíveis, umas brincadeiras e frivolidades. Impera no entanto o grande vôo: que indica um caminho profundo de inesgotável sentido, sagrado, religioso, aterrador e silencioso num só tempo. Esse é o caminho verdadeiro do homem que se presa, que se valoriza. Um abismo com corda bamba é isto que vejo como sendo vida: difícil de ser tranpassado. A verdade palpita de meu peito: Sentes tú o que sinto? V6es tú o que vejo? Se não ao menos escutas para notares a proporção de tudo que ví de tudo que passei no decorrer de minha vida, escutas, escutas, eu clamo. Falarei baixinho para os outros não escutares.... Sabes? As paredes por aqui podem ouvir, e há certo temor, um estranhamento nisto. É só a ti que quero dizer. Muito sofri, muito chorei, se contardes todas as vezes e as lagrimas juntares poderás certamente fazer um lago bastante grande num descampado e nele nadar, ou até de remo brincar. Sou feliz porque sei que no final da vida u momento haverá em que minha alma se alegrará, uma grande porta se abrirá, ofuscante como pérolas a brilhar, talvez até com amigos já mortos a me recepcionar. Óh como brilhará minha alma de satisfação, poderei até um pouco mais chorar, não mágoas tampouco amarguras mas sim por um novo caminho encontrar, que estarão sinos a ressoar não posso negar, é por isto que não me canso de lutar... Sabe? Me aventurar pela vida em caminhos dos mais diversos, abrindo trilhas aqui e acolá. Que sejam as aventuras de nossas vidas os caminhos mais interessantes, belos, proveitosos e misteriosos!

      Hector Berlioz: Sabe que às vezes, num tépido dia de verão começo a observar o longínquo horizonte, numa paisagem natural ou mesmo citadina e acabo por perder-me dentro de min mesmo,  é aí que sou acometido de uma dor no abdômen e certa desolação emocional, uma tristeza vazia e desgraçada, alguns devem me olhar e  a si perguntar: - Que é que têm este sujeito estranho e peculiar? – Olhando e notando ao meu lado uma pitoresca e interessante figura eu lhe disse: - Homem nada tenho que não esteja dentro de meus hábitos diários, nada que seja lá alguma coisa considerada alarmante. Alarmante... Ah se tu soubesses o quanto minha alma se entristece por um amor não correspondido. Mas isto não vai querer escutar, é assunto triste e sem graça... Que pode haver de interessante na alma de alguém com a desventura que tenho eu? Que poderá me acalentar além de minha singular tortura? Aliás esta não me acalenta senão causa grande sofrimento, estou sempre parado por todos os cantos, meado em multidões nada vejo senão aquela que é motivo de minhas flagelações.  Em momentos, a impressão que tenho, de que sobrepujam laivos de esperança, que me fazem dar uns sorrizinhos de vez em quando, ora estas, de qualquer forma toda gente com quem ando estranha pois quando falam sobre um assunto específico estou a sorrir, mesmo que o assunto não demande ou requeira esta atitude, é aí então que a suituação se torna imprópria e até inconveniente. Quê direi eu à eles? Que estava distraído? Isto não pode ser considerado uma distração senão a questão que me assola, um ponto ímpar na minha vida, aliás nem tenho vida, pois se esvaiu junto com minha amada. Não me faça lembrar... Quanta dor... Eu prometo que nestas noites de verão estarei a compor poemas para você, assim ao menos, fictíciamente estará meu coração pouco mais consolado, não minha mente, pois esta sabe do que é amor platônico.  Não posso no entanto perdurar numa auto ilusão, haverá um momento limite! Talvez bastante sombrio, neste momento só aí estarei liberto, pois o amor prende e não sedejo sinceramente ver-me toda vida a lamuriar pelos cantos a ver desvanecer diante de min a imagem da alegria. Os clamores subirão de forma bombástica, gritarei desesperadamente, como um louco atroz tomado por acesso de fúria que meu desespero se consumou até as últimas conseqüencias, que este seja o momento derradeito ounde até uma certa hilaridade se mescle com toda esta explosão. Definitivamente: Não é a loucura hilária? Certo temor me sosobrou após tanta energia dissipada de forma estrondosa, certo dia tive de me apoiar numa parede em meio à uma festa, os que viram me chamaram a retornar seus assuntos fúteis e veniais. Quê fazer? Parece que estou doente, é um pouco pálido, não me alimento bem nos últimos dias, até tenho uns pesadelos terríveis esporadicamente, acho que vou morrer...  Os cáusticos clamores que ressoam em minha alma parecem lutar de forma misteriosa contra forças ocultas, surgem então os laivos de esperança mais belos que se possa imaginar, aliás é nestes momentos que percebo que em minha vida nunca passei por momentos tão afetuosos, sutis  e digamos enternecedores... Por que está a  luz tão próxima da obscuridade cruel e sórdida? Talvez seja uma dependente da outra, mas que óbvio!  Tão óbvio que faz crer-me um pateta por não haver antes pensado nisto...   Fui certo dia assistir à uma corrida de cavalos, até fizemos algumas apostas, e lá tive certo esquecimento de tudo que ultimamente vêm me acometendo, inclusive alguns olhares de uma dama belíssima recebi, fazia calor, e estava com tal disposição de espírito que até retribuí os elogios recebidos com outros tantos, situação corriqueira, banal e até um pouco supérflua que adquiriu a partir de então todas as minhas atenções, todo o meu coração!

Smetana:       O mundo têm um compasso de harmonia e beleza inigualável! Certa vez andando por uma rua atulhada de gente parei, estanquei diante de uma vitrine fantástica: Uma confeitaria, minha boca salivou de ver as belas tortas doces, doces de todas as cores, sonhos de chocolate. Que delícia! Eis que neste momento extasiei-me, fiquei desnorteado e embevecido quando notei que dentro da loja encontrava-se minha bela amada, um olhar meigo, terno e úmido ressoou de meu coração em direção à sua alma, os doces, por mais coloridos que fossem ficaram mudos, por mais saborosos que pudessem ser tornaram-se uma sombra, pois via cores, sabores, sons e belos odores nuns olhinhos pequeninos e risonhos. Que mais podia eu querer senão o mundo?

Mahler:  Andava firmemente, compassado e constante, numa trajetória linear pré-estabelecida. É assim que era aquele sujeito, assim que todos o percebiam, até que inesperadamente parou, e reviu muitos de seus conceitos, decidiu sair por aí sem sentido certo, numa dança confusa e improvisada, até tropeçou algumas vezes em pedras e arbustos, pois de tal maneira foi dançando que desviou-se da estrada, caiu e se levantou muitas vezes como se bêbedo estivesse. Sem que ninguém esperasse retornou à estrada e prosseguiu seu caminho da mesma maneira que antes fizera, com a mesma conduta linear,programada e compassada., alternava ora uma atitude ora outra, nos momentos em que tinha-se a impressão que andava desnorteado, tal como um louco ou um debilóide fato era que abria um largo sorriso afetuoso e belo. Sentia-se que estava tão feliz que até dava uma vontade de fazer igual. Certo momento pareceu encontrar certo equilíbrio, um meio termo entre um extremo e outro, o que particularmente julgo o mais adequado: seu nome era Vida!

Edvard Grieg: Os sentimentos são coisa fantástica, fantasiosa, por isto é que fantasio em torno deles, não, não em torno mas sim dentro, me embebo de sentimentos. Em devaneios mórbidos, em loucuras estonteantes, estático por vezes como uma pedra, olhar vidrado na escuridão e mente enaltecida, embevecida acalentada pelos prazeres do coração. É assim que fico ao ser tomado por ondas de sentimento! Ó quão belas são as potencialidades humanas, bondade, altruísmo e amor, que mais é necessário à moral elevada? O sangue parece correr com mais força, o coração pulsar forte, não descompassado como na paixão, esta fugaz vivacidade da alma, mas sim profunda e energeticamente como no amor, esta faceta mágica do ser humano, este caminho espiritual e brilhante. Que alegria! Alegra-me o coração, o corpo a face sorri de tanta alegria. Que alegria! Numa vivacidade fora do comum quero aos olhos de todos olhar, para passar isto que está dentro de min, mas passa que isto não é uma vontade intelectiva, senão um impulso irracional e quase que instintivo, esta é a alegria mais verdadeira que se possa imaginar, há tempos não sorria desta maneira, querer passar aos outros aquilo que sinto sem ter de pensar que quero isto, é simplesmente uma vontade automática que não exige pensamento, é amor.

       Quanta ternura cabe no coração humano? Quantas lágrimas hei de derramar, e hão de pelo meu rosto resvalar, derramas até que como gotas de vida, como pequenas e imensas caiam nos ombros de amigos e amigas? Quanta aventura ha de ser vivida antes do inspirar final? Quantas paisagens hei de contemplar, com olhos enaltecidos e brilhosos? Ímpetos se proliferam de meu peito, uma força irresistível que soa e sai ora sutil ora impetuosamente em cores das mais diversas, cores da minha vida. Ora estas: tanto vivi que já posso dizer que se minha vida um quadro fosse já haveriam certas cores, certa quantidade de variedade relativa, que quem a este quadro vislumbrasse teria certa afeição e um interesse nos detalhes que lhe traria uma felicidade desconhecida, a felicidade de me conhecer. Rujam os tambores para aclamar a verdade que expus!

 Beethoven:

-             Venham todos conhecer! Eu saliento: venham antes que seja tarde, pois os últimos tempos estão próximos e os tempos próximos serão os últimos a se perpetuar

-             Ora estas homem, deixe de besteiras, parece mais que estás a perder teu tempo, veja lá o que vai dizer, caso contrário... Há é melhor ficar calado, não diga nada.

-             Miserável! Quê pensas tu? Porque trabalhas? porque faze tanto alarde em torno de nada? Cala-te e vai!

-             Ora estas seu paspalhão, vamos ver aqui quem têm a razão, certo dia estava eu num lugar ermo e fui acometido de tal vertigem que no chão caí, tudo pareceu acabar, até meu corpo não mais senti. Muitos pareciam gritar noutro momento não percebi mais o tempo passar...

-             E então?

-             Homem de Deus, falo do sofrimento que nos atazana dia e noite, se não olhares o seus olhos nunca perceberá que é que digo, ele sempre ali está, eu corro com ele desesperado, como quem está a lutar pela sobrevivência, é assim que vivo.

-             Não é certo exagero?

-             Não, a própria vida é um exagero, tudo é imponente, basta que assim vejamos.

      Após esta conversação um silêncio profundo tomou o lugar, a impressão era que uma tempestade era eminente, e nuvens pesadas cobriram o céu sem sequer um ruído, é, um vento fazia alarido numas árvores e nas janelas da casa, mas a impressão de silêncio era de tal forma dominante que os presentes não se apercebiam das peripécias dos espíritos que com o vento brincavam. Brincavam? Mais pareciam gemer num lamento triste, constante, monótono e pesaroso. Todos de maneira  corriqueira e costumeira daquela casa foram à cozinha, pois já era hora da janta, e a grande família sempre se reunia naquele horário, naquele lugar. O fogão crepitava fagulhas e ali mesmo uma criança se prontificou com uma vareta e o fogo brincar, ninguém com ela implicou, mas sim um pouco podou, para que não se queimasse. Tanto o tempo passou que comendo todos se saciaram, anunciaram que as festas haveriam de chegar pois era páscoa e uma grande comemoração iriam montar, a maior festa de todas, a maior que se podia imaginar, que se podia com muita vontade montar. Era isto! No dia preciso todos dançaram insaciavelmente, a matrona mandou fazer petiscos e comidas das mais diversas, todos sorriam entre si desejando-se bem, querendo bem uns aos outros. Aquela tempestade? Aquelas nuvens? Não houve chuva sequer uma gota, sim houve certo momento que choveu no salão, onde diversos grupos de cavaleiros e damas dançavam chuvas de confetes e champanhe, para todavia mais comemorar. O dia da festa foi o dia de intensa chama no coração de todos! Não é este o objetivo da vida? Perpassar as idiotices, bestialidades e burrices do mundo para encontrar o aconchego no amor? Não é esta a grande festa? Querer aos outros um bem e estima infinito, e isto exprimir por sorrisos?

26 - A intuição

 

Vigésimo sexto conto: A intuição

 

      Caminhando por uma praia certa vez eu encontrei cinco grãos de areia. É verdade, acreditem em min. Logo vejo que perceberam o quão perceptivo eu sou, não, não perceptivo, mas intuitivo pois de fato intuí que estes grãos estivessem sob meus próprios pés. Que sorte do destino, vejam só: eu lá andando, e eles sempre ali, só fui me dar conte depois de certo tempo de caminhada, por causa da intuição, retornei então todo o trajeto com os mínimos cuidados para calcular com exatidão onde estava quando cheguei à praia. O que não esperava é que minhas pegadas tivessem sido apagadas pelas ondas, malditas ondas, esta foi minha reação inicial. Quando iria eu achar aqueles cinco grãos de areia novamente? Fato surpreendente foi que eu achei, creio que por acaso ou mesmo sorte do destino. Os leitores devem muito estranhar o fato de procurar alguns meros grãos, mas estes eram especiais.

     Por quê? Cada grão representava um planeta diferente, planetas sem nome, cada qual ainda tinha em si bilhões de habitantes. Fiquei aterrado, verdadeiramente preocupado quando lembrei-me que ao passar poderia haver não intencionalmente ter pisado em um dos grãos, quer dizer, um dos planetas, e ser um assassino de bilhões de seres. Deveria dizer seres extra-terrestres? Não, definitivamente não, eles vivem por aqui, e devem por isto ser considerados terrestres, mas vivem em outro planeta, digamos um outro planeta que está no nosso planeta, conectado, engajado.

      Peguei os cinco grãos na mão com um cuidado extremo, atenção redobrada, não consegui enxergar uma diferença que fosse gritante, ou que indicasse diferença em relação com qualquer dos outros grãos. Fiquei nervoso, pois minha intuição não indicara assim e decidi, emergencialmente leva-los ao microscópio, chegando ao laboratório coloquei os grãos sobre a mesa e fui tomar um café, quando retornei eles não estavam mais lá. Foi de notória surpresa quando lembrei-me que por minha falta de atenção ou um descuido bastante grande havia confundido os grãos planetas com grãos de açúcar, e os havia posto não intencionalmente na xícara, que aterradoramente se encontrava plena daquele líquido obscuro, terrívelmente quente e até pestilento na perspectiva de um indivíduo que fosse adentrar-se num ambiente destes, sim seria hostil.

      Com velocidade espantosa despejei todo o conteúdo da xícara numa toalha, antes de causar queimaduras das mais graves nos planetas, notei que muita açúcar se misturara com os grãos, de modo que ficara difícil distinguir qual era um e qual era outro, não há outro meio de saber senão colocando um por um na boca, se não se desfizesse por certo seria areia. Foi isto então que fiz, com perícia e minuciosidade que até então desconhecia.

      Transcorrido grande intervalo de tempo consegui separar os cinco planetas, e os pus no microscópio, desta vez até desisti de tomar café, aliás fiquei extremamente arrependido de  ter tido esta idéia, pois poderia de maneira avassaladora dizimar miríades de seres em uma atitude aparentemente simples e banal. Estando sob a vista das lentes do microscópio pude analisar melhor aqueles diferentes mundos, foi de muita desventura quando notei sua similaridade com grãos de areia comuns. Teria eu, não intencionalmente, pegado os grãos de areia errados da praia? Seriam grãos de açúcar que não derretiam? Minha mente fervilhava de dúvidas e cogitações das mais diversas.

      No outro dia retornei ao mesmo lugar da praia, preocupadíssimo com a possibilidade de alguém haver massacrado os cinco planetas originais. Estando já no mesmo lugar olhei bem para o chão e prestei atenção à todos os detalhes da areia, percebi logo que haviam uns grãos que eram relativamente maiores que outros, alguns também tinham uma certa transparência, e outros ainda que julgava numa primeira instância serem grãos eram na verdade pequenos pedaços de conchas. Dentre esta vasta gama de variedades encontrei três esferas de tamanho igual que um grão, mas de formato totalmente esférico. Claro! Estes deveriam ser estes os verdadeiros. Pretenciosamente coloquei-os no bolso e retornei ao local base de minhas investigações: o laboratório. Após as verificações iniciais constatei ter anteriormente me enganado de maneira crassa, como pudera eu haver cometido um erro destas proporções? Pegar os grãos errados? Bem... então o que se passou foi fenomenal, sem igual, desta vez nem cogitei tomar o café e fui direto ao assunto, os pus no microscópio, quando focalizei os planetas notei que cada qual era de uma tonalidade avermelhada bastante vivaz, quase como se emitissem luz por si mesmo. Aí fiquei observando por meia hora, o que acabou por se prolongar por duas ou três horas, foi quando me cansei e fui tomar um café, desta vez entretanto intencionalmente coloquei os cinco planetas dentro da xícara de café e tomei o café por completo, sem medo nem piedade, até queimei a garganta, de tal forma degluti aquela bebida que antes nunca me notara tão afoito e desesperado por tomar um café.  Óbviamente enguli os planetas junto, sim, já estava farto de toda esta história, cansado e exausto de intuições fui viver o dia.

25 - As muitas vestimentas do imperador Gasildo

 

Vigésimo quinto conto: As muitas vestimentas do imperador Gasildo

 

      O imperador de Gasildo teve certa vez a intenção de melhorar sua aparência, para que nas festas de seu palácio pudesse ter boa fama. Seus súditos então não paravam de dar-lhe sugestões das mais diversas, após algumas semanas sua aparência já era totalmente diferente, tão diferente que se alguém que antes o conhecesse não soubesse da mudança, de fato, não o reconheceria.

      Na história da humanidade a aparência sempre representou uma característica preponderante na aquisição de poder, honra, glória e até boa índole. Não precisamos nos abismar com esta informação, já que a visão é dos sentidos a principal fonte de percepção da realidade, assim, todos os seres humanos têm um fraco de deixar-se impressionar pelas aparências. Iverossivelmente é correto dizer que quem vê cara não vê coração, seria precipitação julgar um livro pela capa, não quero dizer com isto que o rei esteja errado em vislumbrar-se diante do espelho diariamente como um pavão abobalhado, mas que existe a possibilidade de que sejam distoantes alma e matéria.

      Gasildo confabulava certa feita com uma fada, pois tinha manias diversas, num pitoresco e exclusivo linguajar conversava com fadas, gnomos e houveram ocasiões, segundo as bocas mais ruidosas do palácio, em que Gasildo travara longos embates com gigantes de pedra. Seu dialeto tratava-se de um emaranhado confuso de termos, que em momentos específicos se transformavam em cânticos, como também podiam estar num termo tão antagônico ideológicamente que acabavam por perder qualquer possibilidade de nexo ou sentido.

     Esta fada, cujo nome era Vrina lhe concedia dicas e opiniões das mais diversas, no entanto neste dia bastou somente uma sessão de risos para que Gasildo percebesse, de maneira prodigiosa e perspicaz que algo estava errado: Seria com ele? Com ela? Com o mundo? Ou estaria ela desembestadamente louca?

-             Há! Há! Há! Vejo o que te fizeram estes palhaços do palácio, mais parece um bando de desnorteados que nunca vi igual, realmente meu rei, tu, portador de inteligência sem igual, não vistes como estás?

-             Como estou? Ora estas Vrina, estas fazendo picuinha de min? Não disponho de tempo para coisas fúteis como tuas banalidades, e pensar que tú sempre foste a melhor companhia que pudesse um humano ter...

-             Não te iludas, pois percrusta sendas enganosas, o que querem é te devorar, fazer com que pareças um polichinelo, para depois, somente depois te difamarem em público. É melhor que te preocupes com outras coisas que propriamente com tua aparência.

-             Desde o dia que julguei oportuno melhorar estas roupas me sinto de fato um tanto estranho, não conte à ninguém, pois este é segredo que ninguém sabe, estou contra minha vontade.

-             O quê?

-             Me desiludi já , nem precisas tu de largas explanações para me convencer que esta farsa é ilusória. – Quando o rei diz esta farsa aponta suas vestes, que mais pareciam de um palhaço. Extremamente abatido deixa seus aposentos e vai em direção ao grande salão do castelo, em busca de qualquer distração.

      Em verdade, aquele dia foi importante, pois deu uma esperança ao rei, que se deixava entristecer profundamente pela maneira como se deixava influenciar por opiniões dos outros. O dilema se prolongou por mais duas semanas, até que num belo dia, logo pela manhã sem se aperceber apareceram dois gnomos ao seu lado, um deles tinha um chapéu vermelho o outro verde.

-             É este o homem?

-             Sim acho que sim, pela cara de pasmado e um certo ar distante nota-se que parece tristonho.

-             Pelos Deuses! Quem ou o quê são vocês? Quê chapéus horríveis, até parecem bruxos ou feiticeiros.

-             Somos Gnomos.

-             Há sim, Gnomos... E quê querem comigo? Já não basta minha tristeza, esta que me acompanha dia a dia juntamente com meus dilemas.

-             Claro, claro... Compreendemos. – Disse um dos gnomos colocando uma das pequeninas mãos no cotovelo, e com a outra o queixo, transmitindo uma expressão de sabedoria e agilidade intelectual. – O que queremos é saber com quê raios de gente estás andando, pois teus trajes mais parecem orelhas de coelho gigantescas, com estribos de cavalo estragados que propriamente roupa, aconselhamos urgentemente que troque isto aí, aliás nunca vi um rei vestir-se de maneira tão inusitada e até desfavorável à sua boa reputação.

-             Põe em dúvida minha reputação? Acaso não valorizas tua própria vida?

-             De princípio convém dizer que sou, como meu colega, um ser evanescente, feito de ectoplasma, portanto não nos submetemos às mesmas leis que regem o mundo dos homens, não julgues que podes matar um gnomo. Quanto ao caso que está em pauta é bom dizer logo que o conselho é trajar-se bem, pois sabe-se que mesmo que o espírito seja nobre e sincero temos de convir que os olhos são a ferramenta mais potentente do homem.

-             E quê relação põe dos olhos com minha reputação?

-             O que os olhos não vêem o coração não sente, o senhor deve trajar-se segundo nossas recomendações, do contrário poderás até, em último caso, perder o poder.

     Estas últimas palavras foram suficientes para deixar Gasildo aterrado, não imaginava que suas atitudes pudessem ter resultantes drásticas como estas, deste modo decidiu seguir os conselhos daqueles guinomos, que naquele momento lhe pareceram esbeltos e explendorosos. Foi com grande honra que adotou ao pé da letra tudo o que lhe fora citado à respeito de como vestir-se adequadamente.

      Para a surpresa de todos, numa das muitas festas concedidas pelos nobres das circunstâncias ocorreu que o rei portava um longo chapéu, uma camisa xadrez e botas de couro, em seu cinturão haviam muitas sacolinhas, que segundo ele eram pós mágicos e poções, cada qual com uma função específica. Foi uma zoeira tremenda, todos riram do rei, muitos não  tiveram sequer a preocupação de disfarçar, fato que custou-lhes a própria vida.

      Não tardou muito para que o rei se apercebesse que havia cometido grande erro, pois mesmo que aquelas roupas fossem adequadas não eram aconselháveis para todas as ocasiões, concluiu disto que a roupa em si não era fator importante para o bom sucesso e poder, mas sim adequação aos diferentes grupos e modalidades culturais. Não obstante esta conclusão foi tão tardia quando inútil, pois a fama do rei passou a ser de louco varrido e pessoa com falta de personalidade, o que segundo minha opinião não ha base sólida nestas falácias pois o rei buscava em si um valor que lhe tornasse mais famoso, não sabia porém que é a alma quem cresce e domina o mundo e não qualquer destas mesquinharias que são as aparências.

34 - Pássaros de luz

  trigésimo quarto - Pássaro de luz Vida vida corre vida, corre para lá corre para cá e se esvai, se esvai. Engrandece cresce. O pássaro d...