Friday, November 1, 2024

27 - Homenagem aos gênios

 

Vigésimo sétimo conto: Homenagem aos gênios

 

     A vida está em constante mudança, ora estamos em situação favorável, ora desfavorável. No entanto tanto numa quanto na outra situação o sujeito que as vive é o mesmo, de modo que sua essência é sempre a mesma, estando sempre em desenvolvimento linear. Uma tristeza imensa toma minha alma hoje, até parece que os dias floridos de ontem não passaram de sonho inócuo, algo há muito dissipado. É detestável chegar ao patamar de não ter nada para fazer, nenhum projeto, nenhuma vontade, nenhuma ambição. Me parece que o ser humano depende disto para sentir-se animado, a alma se embebe de vida quando somos acometidos por novas idéias, vontades ou sentimentos. O novo é uma necessidade do espírito para bem viver, tudo deve ser novo todos os momentos, do contrário a vida se transforma em monotonia e velhacaria. Para que então o homem não perecece em decorrência de sua fraqueza natural, em virtude de sua pasma inatividade, uma modorra inerente à todos, um estado estático e fraco Deus decidiu trazer de vez em quando certos naipes de pessoas que alterariam este modo de viver destrutivo e desvantajoso ao coração humano, assim que prestamos esta homenagem parca e miúda, diante da grandeza de cada um destes músicos. Pois tais foram suas façanhas criativas que nos prontificamos de maneira decidida a embasbacarmo-nos com tamanha grandeza e veracidade de espírito. Que Deus nos conceda ao menos o infindável prazer de conhecermos seus trabalhos, suas obras perenes e suas incontestáveis verdades morais, pois tal é a essência que na arte se incrusta. Os artistas são homenageados através de contos que procuraram retratar através de expressões linguísticas as suas frases musicais de envergadura vasta e latente em nossas mentes, em nossos corações.

Brahms, Elgar Mussorgsky, Hector Berlioz, Smetana, Mahler, Edvard Grieg, Beethoven

      Brahms: Bem, dados jogados à mesa... Qual será o resultado? Aquele que sabe atua conforme sua sabedoria, isto é inevitável. Se sabes tu que todo ser humano vive um inestimável “script”, aventura profunda e tocante, história inigualável de proporções avassaladora. Vive pois o teu teatro, chora a tuas lágrimas e ama os teus circunstantes, agüenta o que te vier e têm a convicção de que estás dentro de uma jornada de grande sentido,  um caminho há de ser percorrido, com princípio meio e fim. Faz como os atletas que correm: percorre a tua aventura, perpassa os dilemas, as amarguras e dificuldades da senda com cabeça erguida, se cair levanta-te e segue, mas por favor, nunca esquece, custe o que custar: lembra-te de que há um nevrálgico sentido na vida, pois a vida... A vida é uma aventura!

      Elgar: Oh! Quanta ternura, quanto!? Quanto... Como poderei descrever? Quanto sentido! Talvez cantando poderia melhor me expressar, pois a música vai até onde a linguagem não pode chegar... Passou-se a tempestade peçonhenta das dúvidas que antes me provocavam tristeza e amargura, quantos males e nadas me abatiam... No âmago de minha vida está o suspiro derradeiro: aquela nota que se apresenta, e ressoa de maneira profunda chegando ao coração, as plantas que em noite silenciosa iluminadas por uma luz mágica de noite estrelada me parecem falar mesmo sem boca para qualquer palavra proferir e mais entendo elas que à qualquer outro que me queira contatar. Serão elas minha própria consciência que voa a silencioso lugar, silencioso porque a profundidade é silenciosa, no abissal fundo do oceano criaturas soturnas vivem um eterno silêncio, nas horas vazias de barulho da noite há tanta vida do espírito que chego à me extasiar com suspiros que saem de meu peito involuntariamente. Estarei eu a chorar? Choro a tristeza do mundo, é na lágrima triste e nos suspiros que antes as provocaram terna e profundamente que sinto a luz do sentir. Óh lágrimas humanas! Chorar a aventura humana, impetuosamente, veementemente, tempestuosa e forte como um touro é esta onda de sentido e certeza que me entra como uma torrente, o sentido da vida... Qual é? Me parece que é chorar... Pois enquanto choro nada mais é necessário, tudo o mais seria brincadeira.

  Mussorgsky: Então penso que a aventura da vida é a todos amar. Tão simples e singelo que não sei como não pude nisto antes pensar.Ela é muito grande, não se resume à isto de forma tão simples, há algo misterioso no ar, que jamais vamos nós resolucionar, pois mistérios foram feitos para se perpetuar. Que dirá aquele que descobrir uma verdade existente para ser um mistério? Terá alguma “graça”a vida deste? O mistério é uma questão nevralgica na vida do ser. Não existindo nenhum mistério faltará certamente algum ingrediente na vida. Fadas, magos, gnomos, elfos, curupira, saci-pererê e caipora. Lendas, mitos, contos e histórias para lá de cabeludas. Que graça há por vezes nestes contos, muitas travessuras, muitas historietas divertidas e interessantes Uma marcha fúnebre é a trama do ar, a trama de nossas vidas: intrincado caminho inter-relacionado que demanda de nós a inteligência e perspicácia para solucionar, pois: Quê é nossas vidas senão o maior de todos os mistérios? O mais instigante! Acorda amigo! Acorda para as questões da tua vida agitar e destrinchar. Se ficares si como moribundo certamente vais desfalecer e perder-te em caminhos inócuos. Num trabalho árduo, como um escravo, cavalos suando e bois carregando pesadas charretes, é assim que vejo a vida meus amigos, viver é tarefa imprópria para fracos, ainda que hajam lá seus momentos banais e descartáveis, outros até desprezíveis, umas brincadeiras e frivolidades. Impera no entanto o grande vôo: que indica um caminho profundo de inesgotável sentido, sagrado, religioso, aterrador e silencioso num só tempo. Esse é o caminho verdadeiro do homem que se presa, que se valoriza. Um abismo com corda bamba é isto que vejo como sendo vida: difícil de ser tranpassado. A verdade palpita de meu peito: Sentes tú o que sinto? V6es tú o que vejo? Se não ao menos escutas para notares a proporção de tudo que ví de tudo que passei no decorrer de minha vida, escutas, escutas, eu clamo. Falarei baixinho para os outros não escutares.... Sabes? As paredes por aqui podem ouvir, e há certo temor, um estranhamento nisto. É só a ti que quero dizer. Muito sofri, muito chorei, se contardes todas as vezes e as lagrimas juntares poderás certamente fazer um lago bastante grande num descampado e nele nadar, ou até de remo brincar. Sou feliz porque sei que no final da vida u momento haverá em que minha alma se alegrará, uma grande porta se abrirá, ofuscante como pérolas a brilhar, talvez até com amigos já mortos a me recepcionar. Óh como brilhará minha alma de satisfação, poderei até um pouco mais chorar, não mágoas tampouco amarguras mas sim por um novo caminho encontrar, que estarão sinos a ressoar não posso negar, é por isto que não me canso de lutar... Sabe? Me aventurar pela vida em caminhos dos mais diversos, abrindo trilhas aqui e acolá. Que sejam as aventuras de nossas vidas os caminhos mais interessantes, belos, proveitosos e misteriosos!

      Hector Berlioz: Sabe que às vezes, num tépido dia de verão começo a observar o longínquo horizonte, numa paisagem natural ou mesmo citadina e acabo por perder-me dentro de min mesmo,  é aí que sou acometido de uma dor no abdômen e certa desolação emocional, uma tristeza vazia e desgraçada, alguns devem me olhar e  a si perguntar: - Que é que têm este sujeito estranho e peculiar? – Olhando e notando ao meu lado uma pitoresca e interessante figura eu lhe disse: - Homem nada tenho que não esteja dentro de meus hábitos diários, nada que seja lá alguma coisa considerada alarmante. Alarmante... Ah se tu soubesses o quanto minha alma se entristece por um amor não correspondido. Mas isto não vai querer escutar, é assunto triste e sem graça... Que pode haver de interessante na alma de alguém com a desventura que tenho eu? Que poderá me acalentar além de minha singular tortura? Aliás esta não me acalenta senão causa grande sofrimento, estou sempre parado por todos os cantos, meado em multidões nada vejo senão aquela que é motivo de minhas flagelações.  Em momentos, a impressão que tenho, de que sobrepujam laivos de esperança, que me fazem dar uns sorrizinhos de vez em quando, ora estas, de qualquer forma toda gente com quem ando estranha pois quando falam sobre um assunto específico estou a sorrir, mesmo que o assunto não demande ou requeira esta atitude, é aí então que a suituação se torna imprópria e até inconveniente. Quê direi eu à eles? Que estava distraído? Isto não pode ser considerado uma distração senão a questão que me assola, um ponto ímpar na minha vida, aliás nem tenho vida, pois se esvaiu junto com minha amada. Não me faça lembrar... Quanta dor... Eu prometo que nestas noites de verão estarei a compor poemas para você, assim ao menos, fictíciamente estará meu coração pouco mais consolado, não minha mente, pois esta sabe do que é amor platônico.  Não posso no entanto perdurar numa auto ilusão, haverá um momento limite! Talvez bastante sombrio, neste momento só aí estarei liberto, pois o amor prende e não sedejo sinceramente ver-me toda vida a lamuriar pelos cantos a ver desvanecer diante de min a imagem da alegria. Os clamores subirão de forma bombástica, gritarei desesperadamente, como um louco atroz tomado por acesso de fúria que meu desespero se consumou até as últimas conseqüencias, que este seja o momento derradeito ounde até uma certa hilaridade se mescle com toda esta explosão. Definitivamente: Não é a loucura hilária? Certo temor me sosobrou após tanta energia dissipada de forma estrondosa, certo dia tive de me apoiar numa parede em meio à uma festa, os que viram me chamaram a retornar seus assuntos fúteis e veniais. Quê fazer? Parece que estou doente, é um pouco pálido, não me alimento bem nos últimos dias, até tenho uns pesadelos terríveis esporadicamente, acho que vou morrer...  Os cáusticos clamores que ressoam em minha alma parecem lutar de forma misteriosa contra forças ocultas, surgem então os laivos de esperança mais belos que se possa imaginar, aliás é nestes momentos que percebo que em minha vida nunca passei por momentos tão afetuosos, sutis  e digamos enternecedores... Por que está a  luz tão próxima da obscuridade cruel e sórdida? Talvez seja uma dependente da outra, mas que óbvio!  Tão óbvio que faz crer-me um pateta por não haver antes pensado nisto...   Fui certo dia assistir à uma corrida de cavalos, até fizemos algumas apostas, e lá tive certo esquecimento de tudo que ultimamente vêm me acometendo, inclusive alguns olhares de uma dama belíssima recebi, fazia calor, e estava com tal disposição de espírito que até retribuí os elogios recebidos com outros tantos, situação corriqueira, banal e até um pouco supérflua que adquiriu a partir de então todas as minhas atenções, todo o meu coração!

Smetana:       O mundo têm um compasso de harmonia e beleza inigualável! Certa vez andando por uma rua atulhada de gente parei, estanquei diante de uma vitrine fantástica: Uma confeitaria, minha boca salivou de ver as belas tortas doces, doces de todas as cores, sonhos de chocolate. Que delícia! Eis que neste momento extasiei-me, fiquei desnorteado e embevecido quando notei que dentro da loja encontrava-se minha bela amada, um olhar meigo, terno e úmido ressoou de meu coração em direção à sua alma, os doces, por mais coloridos que fossem ficaram mudos, por mais saborosos que pudessem ser tornaram-se uma sombra, pois via cores, sabores, sons e belos odores nuns olhinhos pequeninos e risonhos. Que mais podia eu querer senão o mundo?

Mahler:  Andava firmemente, compassado e constante, numa trajetória linear pré-estabelecida. É assim que era aquele sujeito, assim que todos o percebiam, até que inesperadamente parou, e reviu muitos de seus conceitos, decidiu sair por aí sem sentido certo, numa dança confusa e improvisada, até tropeçou algumas vezes em pedras e arbustos, pois de tal maneira foi dançando que desviou-se da estrada, caiu e se levantou muitas vezes como se bêbedo estivesse. Sem que ninguém esperasse retornou à estrada e prosseguiu seu caminho da mesma maneira que antes fizera, com a mesma conduta linear,programada e compassada., alternava ora uma atitude ora outra, nos momentos em que tinha-se a impressão que andava desnorteado, tal como um louco ou um debilóide fato era que abria um largo sorriso afetuoso e belo. Sentia-se que estava tão feliz que até dava uma vontade de fazer igual. Certo momento pareceu encontrar certo equilíbrio, um meio termo entre um extremo e outro, o que particularmente julgo o mais adequado: seu nome era Vida!

Edvard Grieg: Os sentimentos são coisa fantástica, fantasiosa, por isto é que fantasio em torno deles, não, não em torno mas sim dentro, me embebo de sentimentos. Em devaneios mórbidos, em loucuras estonteantes, estático por vezes como uma pedra, olhar vidrado na escuridão e mente enaltecida, embevecida acalentada pelos prazeres do coração. É assim que fico ao ser tomado por ondas de sentimento! Ó quão belas são as potencialidades humanas, bondade, altruísmo e amor, que mais é necessário à moral elevada? O sangue parece correr com mais força, o coração pulsar forte, não descompassado como na paixão, esta fugaz vivacidade da alma, mas sim profunda e energeticamente como no amor, esta faceta mágica do ser humano, este caminho espiritual e brilhante. Que alegria! Alegra-me o coração, o corpo a face sorri de tanta alegria. Que alegria! Numa vivacidade fora do comum quero aos olhos de todos olhar, para passar isto que está dentro de min, mas passa que isto não é uma vontade intelectiva, senão um impulso irracional e quase que instintivo, esta é a alegria mais verdadeira que se possa imaginar, há tempos não sorria desta maneira, querer passar aos outros aquilo que sinto sem ter de pensar que quero isto, é simplesmente uma vontade automática que não exige pensamento, é amor.

       Quanta ternura cabe no coração humano? Quantas lágrimas hei de derramar, e hão de pelo meu rosto resvalar, derramas até que como gotas de vida, como pequenas e imensas caiam nos ombros de amigos e amigas? Quanta aventura ha de ser vivida antes do inspirar final? Quantas paisagens hei de contemplar, com olhos enaltecidos e brilhosos? Ímpetos se proliferam de meu peito, uma força irresistível que soa e sai ora sutil ora impetuosamente em cores das mais diversas, cores da minha vida. Ora estas: tanto vivi que já posso dizer que se minha vida um quadro fosse já haveriam certas cores, certa quantidade de variedade relativa, que quem a este quadro vislumbrasse teria certa afeição e um interesse nos detalhes que lhe traria uma felicidade desconhecida, a felicidade de me conhecer. Rujam os tambores para aclamar a verdade que expus!

 Beethoven:

-             Venham todos conhecer! Eu saliento: venham antes que seja tarde, pois os últimos tempos estão próximos e os tempos próximos serão os últimos a se perpetuar

-             Ora estas homem, deixe de besteiras, parece mais que estás a perder teu tempo, veja lá o que vai dizer, caso contrário... Há é melhor ficar calado, não diga nada.

-             Miserável! Quê pensas tu? Porque trabalhas? porque faze tanto alarde em torno de nada? Cala-te e vai!

-             Ora estas seu paspalhão, vamos ver aqui quem têm a razão, certo dia estava eu num lugar ermo e fui acometido de tal vertigem que no chão caí, tudo pareceu acabar, até meu corpo não mais senti. Muitos pareciam gritar noutro momento não percebi mais o tempo passar...

-             E então?

-             Homem de Deus, falo do sofrimento que nos atazana dia e noite, se não olhares o seus olhos nunca perceberá que é que digo, ele sempre ali está, eu corro com ele desesperado, como quem está a lutar pela sobrevivência, é assim que vivo.

-             Não é certo exagero?

-             Não, a própria vida é um exagero, tudo é imponente, basta que assim vejamos.

      Após esta conversação um silêncio profundo tomou o lugar, a impressão era que uma tempestade era eminente, e nuvens pesadas cobriram o céu sem sequer um ruído, é, um vento fazia alarido numas árvores e nas janelas da casa, mas a impressão de silêncio era de tal forma dominante que os presentes não se apercebiam das peripécias dos espíritos que com o vento brincavam. Brincavam? Mais pareciam gemer num lamento triste, constante, monótono e pesaroso. Todos de maneira  corriqueira e costumeira daquela casa foram à cozinha, pois já era hora da janta, e a grande família sempre se reunia naquele horário, naquele lugar. O fogão crepitava fagulhas e ali mesmo uma criança se prontificou com uma vareta e o fogo brincar, ninguém com ela implicou, mas sim um pouco podou, para que não se queimasse. Tanto o tempo passou que comendo todos se saciaram, anunciaram que as festas haveriam de chegar pois era páscoa e uma grande comemoração iriam montar, a maior festa de todas, a maior que se podia imaginar, que se podia com muita vontade montar. Era isto! No dia preciso todos dançaram insaciavelmente, a matrona mandou fazer petiscos e comidas das mais diversas, todos sorriam entre si desejando-se bem, querendo bem uns aos outros. Aquela tempestade? Aquelas nuvens? Não houve chuva sequer uma gota, sim houve certo momento que choveu no salão, onde diversos grupos de cavaleiros e damas dançavam chuvas de confetes e champanhe, para todavia mais comemorar. O dia da festa foi o dia de intensa chama no coração de todos! Não é este o objetivo da vida? Perpassar as idiotices, bestialidades e burrices do mundo para encontrar o aconchego no amor? Não é esta a grande festa? Querer aos outros um bem e estima infinito, e isto exprimir por sorrisos?

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