Friday, November 1, 2024

30 - Em outro planeta

 

Trigésimo conto: Em outro planeta

 

      No início uma absoluta escuridão reinou no universo, por muito tempo, não se saber quanto ao certo, até que um vento soprou e fez um fogo queimar, pois sem este vento aquele fogo não queimava, e ainda ficava invisível sob a escuridão. No momento em que o vento soprou apareceram pontos luminosos, de um vermelho ardente, de onde nasceu o calor. Calor este que não só representava as labaredas do fogo que queimava como também o amor no mundo.

      Este calor fez com que o universo, antes um vazio escuro e interminavelmente oco ficasse cheio de vida. O calor que animou o mundo parece olvidado, deixado no esquecimento, as pessoas de si cuidam e não prestam a mínima atenção no sofrimento alheio, quantas pessoas parecem ter nascido mas ainda não ser instituídas de vida, a verdadeira vida, assim ocorre que no mundo o que as pessoas mais precisam é uma orientação, para seguir os caminhos da verdadeira vida, por este mesmo motivo todos andam ansiosos a busca de  nada e fundamentados num nada.

      Dienis refletiu sobre esta problemática durante algum tempo, mas estava com muita pressa e não pode mais ficar a filosofar, teve logo de arrumar sua mochila de viagem, pois uma longa jornada lhe esperava. Estamos num futuro longínquo, em planeta distante do planeta terra, planeta tecnologicamente muito mais evoluído, entretanto falando-se do aspecto moral não é confiável crer, que aquele planeta fosse mais avançado que a terra, havia muita confusão e desentendimento entre os governantes, o que ocasionava transtornos dos mais diversos aos habitantes. Deflagravam-se lutas e desavenças entre os soldados, e quem pagava o preço destas guerras era a gente comum que não tinha muita culpa na questão das políticas internacionais serem tão desajustadas como eram.

       Muita gente que lê este conto pensará que é algo similar ao que passa na Terra, não pode-se comparar muito, já que sendo aquele planeta demasiado desenvolvido tecnológica e cientificamente ocorria que as proporções das guerras eram catastróficas e amplas quando comparadas ao nosso planeta. Assim, mesmo sabendo dos muitos problemas que ocorriam em seu país Dienis não podia resolvê-las, a solução era suportar uma série de situações que não lhe eram favoráveis, e isto sempre o fizera com convicção e até um certo otimismo, ainda que em muitas das vezes não haviam resultados considerados bons, mas que em todo caso serviam como aprendizagem.

      Tendo colocado tudo o que precisava na mochila pegou seu veículo de transporte, que seria algo equivalente à uma moto em nosso planeta, com a diferença de que era bem maior e que voava os céus a vertiginosas velocidades, muito mais rápidas que nossos aviões mais rápidos. Voou muito ao alto e seguiu à frente, passando muitos países em muito pouco tempo, era incrível a visão que tinha lá de cima, podia ver muitas cidades que por breves momentos passavam por seu campo visual, via as maiores construções parecerem pontinhos ínfimos. Dienis ficou vislumbrado com aquilo, após pousar aquela máquina se encontrou em local bem distante do qual havia iniciado a viagem com alguns familiares, com os quais tinha de trocar importantes informações, sobrou tempo para declarações sentimentais, pois muito os amava e sempre que podia demonstrava seus sentimentos da maneira que julgava mais adequada para cada ocasião, aquela era uma ocasião de extrema pressa, pois sabia que estaria sendo perseguido por soldados, que tendo verificado uma nave voando estariam atrás para destruí-la o quanto antes, infringira a regra de não passar os limites de seu país. No entanto o fato é que estava tentando um grande empreendimento, além de ver seus familiares novamente, os quais já faziam muitos anos que não via, tentaria prosseguir a viagem até um país mais longínquo todavia, que era resguardado ainda por outros muitos soldados.

      Notando a premência do perigo por seu sinalizador interestelar julgou conveniente ir-se dali o quanto antes, despediu-se dos familiares e subindo em sua nave fugiu a toda velocidade daquele lugar, após certo tempo de viagem finalmente se consumaram seus pensamentos mais receosos. Sim, era certo que haviam muitos perseguidores, dos mais cruéis e violentos, Dienis era muito habilidoso com aquela maquineta voadora, havia a possibilidade de ele escapar ileso, e voava tão magistralmente com aquilo que se aquela perseguição tivesse sido filmada por algum cineasta julgaria que ele e a máquina constituíam uma só coisa, tamanha era a harmonia que se formava entre os dois.

      Ora virava bruscamente à esquerda, em velocidade vertiginosa, entrando em túneis que se dispunham na constituição da cidade, ora à direita pegando atalhos e passagens que confundiam seus perseguidores malvados e impiedosos, que não dispunham de escrúpulos ou valores humanos, por momentos via-se em extremo perigo, mas em outros conseguia esquivar-se de uma maneira quase que artística de seus oponentes.

      Dienis tanto obstinou-se nesta fuga que por fim se viu livre de todos os soldados, logo encontrou à poucas centenas de quilômetros a cidade que almejava chegar, e que até então nunca tivera coragem de empreender a viagem. Que país era aquele que tanto almejara chegar, com o qual nunca travara contato anteriormente, que tinha uma beleza tão bem proporcionada, uma beleza tão grande, uma beleza tão bela que chegarva a extasiar-se, embasbacado com a quantidade de cores que tinha diante de seus olhos, em tons vivos e vivificantes, era um belo país por certo. Seria um mundo encantado? Ao descer sua nave notou que os diferentes sons que se propagavam nos arredores, provindos de animais silvestres e mesmo das forças da natureza formavam um só conjunto orquestral, tudo soava de tal maneira que parou por um instante e fechou os olhos prestando atenção à todos os detalhes daquela sinfonia natural, sorriu com  espontaneidade, inesperadamente, ficou surpreso com seus próprios sentimentos, e olhando às cores do céu que demonstravam tonalidades arroxeadas vislumbrou uma beleza desproporcional à sua capacidade de entendimento e assimilação, tendo consciência deste fato julgou-se pequeno diante de tudo, mas logo percebeu que era parte do todo, e que por isto compunha, com sua pequenina contribuição, sua parte naquela orquestra, naquela pintura que era aquele país. Seus olhos brilharam, seus ouvidos se extasiaram e seu coração pulsou como nunca antes havia ocorrido. Creu piamente que tudo o que via, como por exemplo aquelas nuvens de cores diversas iluminadas pelos três sóias que naquele planeta existiam não só se encontravam à grande distância dele como também eram ele próprio, de tal sorte este pensamento perpassou sua mente que ele imaginou não só entrar em contato com o mundo ao seu redor como também ser o próprio mundo  Neste momento, entoado por estes sentimentos disse em voz alta: - Eu sou o mundo! -  Ninguém ouviu pois ali não havia ninguém ali, a não ser um vento que insistia em correr de um lado para o outro fazendo com que seus cabelos esvoaçassem conforme sua vontade, vento este que fazia as arvores rugirem e suas folhas cantarem tristes canções, vento este que fazia os mares bradares e suas ondas cantarem belas músicas, vento este que por vezes diversas derrubava barracas mal pregadas e até fizera por vez e outra surgirem redemoinhos de ar dos mais fortes, vento este que fizera num dia longínquo do passado queimar uma chama, e a partir de então surgir um fogo no mundo, o fogo da vida, o calor do amor, que era supostamente o que sentia Dienis neste momento, por tudo o que estava ao seu redor e por si mesmo, pois quem não se ama não pode amar ao que esta fora de si, amor este que se impregnou no universo, e que só não enxerga isto os cegos que fazem guerras por cobiça e interesses diversos, causando tragédias das mais diversas. Pois o que há de mais precioso é a vida, depois a busca pelo aperfeiçoamento desta vida que é o encontro do amor, o mais alto grau de humanidade, quem causa mortes por certo não pode amar.

      Esta foi sim, uma viagem de riscos diversos. Que viagem é esta senão a viagem de nossas vidas? Que país é este senão o país da felicidade?

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