Trigésimo conto: Em outro planeta
No
início uma absoluta escuridão reinou no universo, por muito tempo, não se saber
quanto ao certo, até que um vento soprou e fez um fogo queimar, pois sem este
vento aquele fogo não queimava, e ainda ficava invisível sob a escuridão. No
momento em que o vento soprou apareceram pontos luminosos, de um vermelho
ardente, de onde nasceu o calor. Calor este que não só representava as
labaredas do fogo que queimava como também o amor no mundo.
Este
calor fez com que o universo, antes um vazio escuro e interminavelmente oco
ficasse cheio de vida. O calor que animou o mundo parece olvidado, deixado no
esquecimento, as pessoas de si cuidam e não prestam a mínima atenção no
sofrimento alheio, quantas pessoas parecem ter nascido mas ainda não ser
instituídas de vida, a verdadeira vida, assim ocorre que no mundo o que as
pessoas mais precisam é uma orientação, para seguir os caminhos da verdadeira
vida, por este mesmo motivo todos andam ansiosos a busca de nada e fundamentados num nada.
Dienis
refletiu sobre esta problemática durante algum tempo, mas estava com muita
pressa e não pode mais ficar a filosofar, teve logo de arrumar sua mochila de
viagem, pois uma longa jornada lhe esperava. Estamos num futuro longínquo, em
planeta distante do planeta terra, planeta tecnologicamente muito mais
evoluído, entretanto falando-se do aspecto moral não é confiável crer, que
aquele planeta fosse mais avançado que a terra, havia muita confusão e
desentendimento entre os governantes, o que ocasionava transtornos dos mais
diversos aos habitantes. Deflagravam-se lutas e desavenças entre os soldados, e
quem pagava o preço destas guerras era a gente comum que não tinha muita culpa
na questão das políticas internacionais serem tão desajustadas como eram.
Muita
gente que lê este conto pensará que é algo similar ao que passa na Terra, não
pode-se comparar muito, já que sendo aquele planeta demasiado desenvolvido
tecnológica e cientificamente ocorria que as proporções das guerras eram
catastróficas e amplas quando comparadas ao nosso planeta. Assim, mesmo sabendo
dos muitos problemas que ocorriam em seu país Dienis não podia resolvê-las, a
solução era suportar uma série de situações que não lhe eram favoráveis, e isto
sempre o fizera com convicção e até um certo otimismo, ainda que em muitas das
vezes não haviam resultados considerados bons, mas que em todo caso serviam
como aprendizagem.
Tendo
colocado tudo o que precisava na mochila pegou seu veículo de transporte, que
seria algo equivalente à uma moto em nosso planeta, com a diferença de que era
bem maior e que voava os céus a vertiginosas velocidades, muito mais rápidas
que nossos aviões mais rápidos. Voou muito ao alto e seguiu à frente, passando
muitos países em muito pouco tempo, era incrível a visão que tinha lá de cima,
podia ver muitas cidades que por breves momentos passavam por seu campo visual,
via as maiores construções parecerem pontinhos ínfimos. Dienis ficou
vislumbrado com aquilo, após pousar aquela máquina se encontrou em local bem
distante do qual havia iniciado a viagem com alguns familiares, com os quais
tinha de trocar importantes informações, sobrou tempo para declarações
sentimentais, pois muito os amava e sempre que podia demonstrava seus
sentimentos da maneira que julgava mais adequada para cada ocasião, aquela era
uma ocasião de extrema pressa, pois sabia que estaria sendo perseguido por
soldados, que tendo verificado uma nave voando estariam atrás para destruí-la o
quanto antes, infringira a regra de não passar os limites de seu país. No
entanto o fato é que estava tentando um grande empreendimento, além de ver seus
familiares novamente, os quais já faziam muitos anos que não via, tentaria
prosseguir a viagem até um país mais longínquo todavia, que era resguardado
ainda por outros muitos soldados.
Notando
a premência do perigo por seu sinalizador interestelar julgou conveniente ir-se
dali o quanto antes, despediu-se dos familiares e subindo em sua nave fugiu a
toda velocidade daquele lugar, após certo tempo de viagem finalmente se
consumaram seus pensamentos mais receosos. Sim, era certo que haviam muitos
perseguidores, dos mais cruéis e violentos, Dienis era muito habilidoso com
aquela maquineta voadora, havia a possibilidade de ele escapar ileso, e voava
tão magistralmente com aquilo que se aquela perseguição tivesse sido filmada
por algum cineasta julgaria que ele e a máquina constituíam uma só coisa,
tamanha era a harmonia que se formava entre os dois.
Ora
virava bruscamente à esquerda, em velocidade vertiginosa, entrando em túneis
que se dispunham na constituição da cidade, ora à direita pegando atalhos e
passagens que confundiam seus perseguidores malvados e impiedosos, que não
dispunham de escrúpulos ou valores humanos, por momentos via-se em extremo
perigo, mas em outros conseguia esquivar-se de uma maneira quase que artística
de seus oponentes.
Dienis
tanto obstinou-se nesta fuga que por fim se viu livre de todos os soldados,
logo encontrou à poucas centenas de quilômetros a cidade que almejava chegar, e
que até então nunca tivera coragem de empreender a viagem. Que país era aquele
que tanto almejara chegar, com o qual nunca travara contato anteriormente, que
tinha uma beleza tão bem proporcionada, uma beleza tão grande, uma beleza tão
bela que chegarva a extasiar-se, embasbacado com a quantidade de cores que
tinha diante de seus olhos, em tons vivos e vivificantes, era um belo país por
certo. Seria um mundo encantado? Ao descer sua nave notou que os diferentes
sons que se propagavam nos arredores, provindos de animais silvestres e mesmo
das forças da natureza formavam um só conjunto orquestral, tudo soava de tal
maneira que parou por um instante e fechou os olhos prestando atenção à todos
os detalhes daquela sinfonia natural, sorriu com espontaneidade, inesperadamente, ficou
surpreso com seus próprios sentimentos, e olhando às cores do céu que
demonstravam tonalidades arroxeadas vislumbrou uma beleza desproporcional à sua
capacidade de entendimento e assimilação, tendo consciência deste fato
julgou-se pequeno diante de tudo, mas logo percebeu que era parte do todo, e
que por isto compunha, com sua pequenina contribuição, sua parte naquela
orquestra, naquela pintura que era aquele país. Seus olhos brilharam, seus
ouvidos se extasiaram e seu coração pulsou como nunca antes havia ocorrido.
Creu piamente que tudo o que via, como por exemplo aquelas nuvens de cores
diversas iluminadas pelos três sóias que naquele planeta existiam não só se
encontravam à grande distância dele como também eram ele próprio, de tal sorte
este pensamento perpassou sua mente que ele imaginou não só entrar em contato
com o mundo ao seu redor como também ser o próprio mundo Neste momento, entoado por estes sentimentos
disse em voz alta: - Eu sou o mundo! -
Ninguém ouviu pois ali não havia ninguém ali, a não ser um vento que
insistia em correr de um lado para o outro fazendo com que seus cabelos
esvoaçassem conforme sua vontade, vento este que fazia as arvores rugirem e
suas folhas cantarem tristes canções, vento este que fazia os mares bradares e
suas ondas cantarem belas músicas, vento este que por vezes diversas derrubava
barracas mal pregadas e até fizera por vez e outra surgirem redemoinhos de ar
dos mais fortes, vento este que fizera num dia longínquo do passado queimar uma
chama, e a partir de então surgir um fogo no mundo, o fogo da vida, o calor do
amor, que era supostamente o que sentia Dienis neste momento, por tudo o que
estava ao seu redor e por si mesmo, pois quem não se ama não pode amar ao que
esta fora de si, amor este que se impregnou no universo, e que só não enxerga
isto os cegos que fazem guerras por cobiça e interesses diversos, causando
tragédias das mais diversas. Pois o que há de mais precioso é a vida, depois a
busca pelo aperfeiçoamento desta vida que é o encontro do amor, o mais alto
grau de humanidade, quem causa mortes por certo não pode amar.
Esta foi
sim, uma viagem de riscos diversos. Que viagem é esta senão a viagem de nossas
vidas? Que país é este senão o país da felicidade?
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