Thursday, October 31, 2024

9 - O desconhecido que não vemos existe

 NONO CONTO: O desconhecido que não vemos existe.

 

      Corria pela noite adentro, estava muito nublado e nada conseguia ver. Tudo era negro e estranho, não tive a oportunidade de ver o que ocorria com meu corpo. Eu estava sendo influenciado por forças estranhas, forças estas que nunca vira antes. Não fiquei com medo, apenas achei tudo muito diferente. A rua estava vazia e eu corria como um desesperado. Aqueles sons estranhos transformaram-se em música, agora me sentia bem com aqueles sons, parecia que eles gostavam de fazer estas coisas para min. O susto havia passado, meu corpo suava bastante, no céu milhares de estrelas me diziam boa noite, havia porém uma grande diferença, que era uma luz vermelha muito forte, não tive medo, apenas parei e fiquei olhando: eram extraterrestres, e algo queriam de min. Nada pude fazer senão olhar para cima extremamente assustado, não podia mais voltar para minha casa, pois havia muito tempo que já estava correndo daquela maneira tão rápida.

       O brilho vermelho que encontrava-se no céu transformou-se em uma luz de cor penetrante, era um amarelo fosforescente, e o disco, que não girava, pousou com grandiosidade em um gramado queimando tudo o que estava à uns 5 metros de distância. Tentei correr de volta apavorado, mas uma força misteriosa que parecia comandar minha mente não me permitia fazer isto. Minha mente estava muito confusa, pois de momentos graciosos e harmoniosos eu passava a Ter pensamentos macabros e atormentados. Desfaleci em um desmaio gélido, nada mais pude ver ou ouvir, tudo era negro e vazio.

      Abri os olhos quando senti muita dor nas costas, lembrei-me de todas as ocorrências anteriores, muito assustado com as lembranças levantei-me de súbito e vi que me encontrava em uma caverna muito gelada, era uma caverna que estranhamente ficava iluminada, Não haviam lâmpadas ou dispositivos que pudessem emitir luz, fiquei assustado com isso, comecei a andar seguindo uma sinuosa trilha através da caverna, era uma caverna comum, porém haviam momentos em que eu ficava em situações extremamente apertadas, passando por estreitos túneis naturais. Num determinado momento as paredes da cavernas começaram a abrir-se para os lados e para cima de modo que me encontrei em um amplo salão, este salão começou a ficar cada vez mais amplo de modo que quase não via mais as paredes laterais tampouco o teto, por incrível que pareça tudo ainda era muito claro, esta misteriosa luz continuava a envolver todo o ambiente, sons estranhos começaram a entrar por meus ouvidos, porém não sabia se estes sons entravam diretamente em minha mente ou se eu realmente estava ouvindo-os, poderiam ser uma espécie de alucinação. Fiquei com medo e comecei a correr como um fugitivo, de encontro a alguma saída. Aquele ambiente parecia não Ter fim, meu corpo já não suportava tanta atividade física. A quanto tempo estaria eu a correr? Onde estaria? Seria tudo isto um sonho? Não, me respondia enquanto aquela música mística envolvia-me, não pode ser sonho, pois sinto que meus pés doem como não poderia ocorrer em um sonho.

      Corri muito, talvez durante uma hora, até que me deparei com um lago de proporções gigantescas, sua água era totalmente transparente de modo que eu consegui visualizar o fundo com clareza, era um fundo estranho, exatamente como o chão, de cor cinza, com algumas pedras, entrei alguns passos na água e percebi que a única solução seria nadar através destas águas geladas, as primeiras braçadas foram difíceis até que me acostumasse com a temperatura da água e com os movimentos cadenciados de meus braços e minhas pernas, tudo era muito novo para min, era completamente sensacional e ao mesmo tempo pavoroso nadar naquele lago, pois estranho era o fato de que mesmo nadando eu conseguia ouvir uma música a qual nunca houvera visto outra igual, era evidente que ela era direcionada diretamente à minha mente, nadei com relativa tranqüilidade, porém não consigo saber exatamente quantos quilômetros de água foram nadados. É fato relevante o susto que tomei quando vi que o fundo daquele imenso lago não podia ser mais visto, somente via uma espécie de energia vermelha que se encontrava nas profundezas, tive muito medo desta energia, era muito estranha, os sons não me deixavam concentrar na visão, derrepente desta energia saíram muitos pontos luminosos da mesma cor, estes vieram em grupos emergindo até encontrarem meu corpo, e nele se instalaram de modo que eu comecei a ficar com uma luminosidade vermelha.

      Aquilo parecia dar-me mais ânimo para nadar, nadei muito até chegar à outra margem, vendo antes disto abaixo das águas límpidas daquele lugar uma espécie de imenso dragão aquático, sem saber o motivo me mantive tranqüilo, ele nadava pelas profundezas do lago. Ao chegar continuei minha vertiginosa corrida até não suportar mais, houve um momento em que pensei que minhas pernas iriam arrebentar, parecia que eu estava em estado de êxtase mental, pois a vontade deveria ser maior que minhas próprias capacidades físicas. O limite parecia estar muito próximo, difícil seria tentar descrever esta sensação por palavras, quantos quilômetros haveria corrido naquele lugar vazio e feio? Talvez quarenta ou cinqüenta. De súbito vi que algo encontrava-se a frente, parecia ser milhares de pontos brancos, certamente seriam estrelas, mas de quê modo se encontravam-se em minha frente e não no céu, corri neste momento muito mais rápido do que me julgava capaz, cheguei ao final e me deparei com um imenso vitral que mostrava do outro lado um universo inteiro, realmente eu merecia aquela visão depois de tanto esforço. Pareceu que todas aquelas estrelas, aquela música e a corrida eram uma coisa só. Não me contive e comecei a chorar muitíssimo. Era um sentimento muito forte aquele que se apoderava de min naquele momento, não sabia exatamente onde estava, mas aquilo naquele exato momento já não me importava mais, o importante era que eu havia extrapolado os limites humanos da capacidade física e com grande esplendor a repercussão foi a de uma explosão de energia sentimental.

      Me ajoelhei no chão rochoso e contemplei a beleza do universo, olhei para as palmas de minhas mãos e elas estavam vermelhas com a energia que havia penetrado do fundo do lago, para dizer a verdade meu corpo todo estava vermelho. Tudo parecia uma grande loucura, quando se aproximou de min um homem de aparência branda, cabelos brancos e curtos e me disse algo em língua que não consegui entender. Colocou a mão em minha cabeça e desmaiei sem saber o por quê, tudo era negro e vazio, acordei no meio de uma rua, já era dia e os carros quase me atropelavam, levantei totalmente entorpecido por algo que não sabia definir, aos poucos me recordei do sonho, mas não tinha tanta certeza de que havia tudo isto sido um sonho já que minhas pernas e braços doíam muito, e na realidade quê fazia eu no meio da rua dormindo àquela hora do dia? 

      Foram coisas misteriosas que aconteceram e que até hoje não sei explicar de que modo ocorreu

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