Wednesday, October 30, 2024

4 - As três irmãs

 

QUARTO CONTO: As três irmãs.

 

      Meu nome é Rodolfo e farei uma descrição que pode parecer engraçada à alguns porém pode ser de muito caso para outros, mas que no meu julgamento é no mínimo bastante criteriosa; Minhas três irmãs são bastante conhecidas pela insistência que possuem quando querem alguma coisa, e tinham uma grande vontade de fazer uma viagem para o exterior de avião. Fiquei bastante feliz quando disseram à min que iriam ficar fora por bastante tempo, porém foi de extraordinária coincidência e extenuante para minha sorte o fato de que eu faria uma viagem à trabalho justamente à mesma cidade em que elas iam, pois tenho grande aversão às suas idéias por serem demasiadamente infantis. A solução mais plausível que encontrei naquele momento for criar o primeiro contrato de aversão já visto na face da terra. Neste contrato inseria-se a clausula de que elas não poderiam aproximar-se além do limite de três quarteirões de minha pessoa. Foi de grande inteligência pensar nesta distância já que a cidade era muito pequena e uma distância superior à esta incitaria à uma saída da cidade, porém para minha desgraça o hotel em que elas ficariam hospedadas era o mesmo que o meu, e para maior azar estávamos em um apartamento defronte ao outro. Fiquei tão infeliz com esta idéia que decidi telefonar diversas vezes ao hotel pedindo que me transferissem de quarto, que fosse o andar mais distante possível daquele, dizia à recepcionista que tinha uma aversão ao número do andar para que ela não pensasse que estivesse louco, fiquei indignado com o tom de voz que fazem estas recepcionistas impertinentes, aquela voz de quem se acha a dona da razão e sabedoria universal: - No momento não temos outros quartos disponíveis meu senhor. – É verdade que não tinham, mas aquela voz me causava raiva, parecia ser uma pessoa odiosa aquela recepcionista, o fato mais intrigante é que eu não sabia se a maldizia pela informação dada ou pelo tom de voz. Tanto um quanto outro eram terríveis concluí eu desligando o telefone com grande indignação. Por quê acontece sempre isso, parece que os hotéis são em toda essência fontes inesgotáveis de problemas das mais variadas origens, nunca cheguei a gostar de hotéis, uns são de péssima limpeza, outros não possuem sequer janela para respirar-se, já vi inclusive ratos andando pelo lavabo, mas isto que acontecia-me agora era insuportável, não poderia me contentar com o fato de ter de dividir o mesmo andar com três irmãs impertinentes, haveria de por um fim nesta situação. Telefonei novamente ao hotel, e no momento em que aquela voz escarnia da recepcionista penetrou no meu cérebro sensível à tal sorte de pessoa pedi-lhe educadamente para não transparecer minha raiva que chamasse o administrador do hotel, e assim me respondeu ela: - Qual é o assunto? Não, isto não poderia ser realidade, como aquela pessoa falava desta enfadonha maneira comigo, tratava-me como um ignorante, extremamente nervoso, e deixando transparecer uma fúria incontrolável que provinha sobretudo na aversão que tinha por minhas três irmãs falei-lhe: - O assunto não é de teu interesse! Chame o gerente agora ou farei um escarcéu. – Sinto muito senhor, mas o gerente está numa importante reunião. – Importante reunião? Pensei... Que raio de reunião seria esta no justo momento em que eu tinha necessidades de motivos maiores para falar-lhe, o fato intrigante é que realmente acreditei que ela havia inventado tal reunião para ludibriar-me, e com isso além de ter grande aversão por minhas três irmãs criei uma grande desavença para com esta mentirosa, falsa e inescrupulosa secretária, aliás, a partir deste mesmo dia comecei a acreditar que todas as secretárias eram mentirosas, falsas e inescrupulosas.

       Chegando no dia X me apresentei ao serviço no qual estou com muito esmero, pegando a passagem de ida para a cidade, parecia que uma verdadeira onda de azar passava por min naquele momento, pois o avião no qual eu iria viajar era exatamente o mesmo que minhas três impertinentes. À quem lê neste momento as palavras de um diário já escrito digo que não quero ser considerada uma pessoa egocêntrica ou injusta, pois sei que em minha total naturalidade já tentei diversas vezes tentei manter relações de paz e conciliação com elas, porém tamanha eram as inimizades que passamos a não conseguir conviver em harmonia como, julgo eu, o fazem todas as famílias aproximadas do que é considerado normal. Ao entrar no avião avistei-as logo na primeira fila, e fingindo não as ver segui reto, é verdade que talvez meu olhar tenha parecido demasiadamente robótico, pois olhava sempre para frente, fiquei até meio tenso propositadamente para que elas pensassem que não as havia realmente visto que ali estavam, porém é tamanha a insistência que estas chatas tem que gritavam meu nome em uma espécie de canto de índio, inclusive batendo palmas e fazendo louvores à minha pessoa como se eu fosse uma espécie de herói: - Rodolfo é nosso grande amigo! Estavam elas tão empolgadas que pareciam acabar de vir de uma festa agradabilíssima, grande foi minha infelicidade ao ver que algumas pessoas e gradativamente mais pessoas perceberam quem era este Rodolfo, no momento em que o avião já havia partido havia passado o tempo suficiente para que todos os passageiros ficassem cientes de que a pessoa que elas idolatravam era eu mesmo, e parecendo estar hipnotizados pela alegria em que estavam inseridas minhas esganáveis irmãs todos os passageiros em um grande coral para lá de afinados começaram a cantar: - Vamos fazer as pazes todos com Rodolfo! Isso tudo de forma repetitiva, funcionava mais ou menos como um “mantra” das seitas orientais, chegou um momento em que achei que estava fora de min, passara-se meia hora do inicio do vôo, procurei manter a calma sempre dentro de minhas capacidades, mas sou humano, e sei plenamente que qualquer ser humano têm seus limites, é verdade, há um momento em que as coisas tornam-se insuportáveis, e houve algo que foi realmente o que eu chamaria de gota da água para que eu explodisse de raiva, agora a situação se agravara muito, pois os cantos eram mudados, e as pessoas decidiam em conjunto mudar as canções, porém por mais que mudassem sempre estava inserido o meu nome como principal tema, uma delas posso citar, era exatamente assim: - Rodolfo é nosso grande campeão, nós os prezamos, idolatramos, amamos, têm grande confiança e é uma pessoa sensacional! Este era o que dizemos por primeiro coro, avia ainda mais o que chama-se segundo coro, o que me deixava muito emocionado também, e este era assim: Rodolfo, Rodolfo, Rodolfo, venha até nós que lhe daremos todo o amor que há no mundo, não tenha medo de se mostrar pleno com todos que aqui estão,  sejais mais humano que antecedemos as palavras! As músicas eram mudadas de forma gradativa, de forma que eram mudados apenas alguns detalhes de minuto em minuto, porém com o passar do tempo elas ficavam totalmente diferentes, comecei a achar que eram muito bonitas num momentos, outras achava que haviam ficado feias senão até desagradáveis. Nunca fizera um curso de música até então, porém ocorreu-me que neste momento eu estava perfeitamente comparável à um crítico de música erudita, foi isso que fez com que ficasse extremamente desconfiado que naquele avião se encontrava uma verdadeira fraternidade de cantores e corais o que pude constatar ser fato de grande veracidade quando chegando na cidade vi que haveria uma peça de canto barroco. Tornando a dizer algo sobre a gota da água que me deixou furioso foi quando começaram a cantar o seguinte verso: - Rodolfo não gosta de secretárias bonitas e charmosas, e não as entendem quando dizem a verdade. Este foi inclusive um momento em que até os comissários de bordo cantavam em uníssono. Neste preciso momento levantei-me para esbofetear minhas irmãs e dar uma verdadeira lição nelas, pois tinha absoluta certeza de que elas haviam espalhado aquele falso boato pelo avião, além disso elas que tinham iniciado aquela espalhafatosa cantoria, porém inútil foi meu intento sendo que as aeromoças contiveram minha ira segurando-me no assento e dizendo que estávamos no momento do pouso e deveria ficar no acento com o cinto. Eu sabia que o resultado seria desagradável já que estas três irmãs sempre me pregam peças das mais diversas, este é leitor destes escritos o único motivo que me leva a querer distâncias de suas personalidades que diria em uma palavra bastante condizente com a verdade macabras. Assim passou-me esta desventura, não é de se surpreender que no hotel tenha sido diferente, pois mesmo que tenhamos nos distanciado ao sair do avião foi ao mesmo tempo que entramos no hotel, a confusão foi muito grande quando aquela mesma recepcionista que me havia atendido ao telefone ao saber que éramos da mesma família quis colocarmos num mesmo quarto, me senti extremamente constrangido ao saber que ela já havia feito tais mudanças, sem mesmo consultar os clientes hospedados, principalmente à min, que sem querer me considerar uma pessoa exigente quero ao menos exigir meus plenos direitos de consumidor, parecia uma onda de gigantescas proporções, nunca havia pensado antes como o azar poderia atingir à uma só pessoa numa tão devastadora e cinegética sorte de acontecimentos. Pois que fosse assim, se as coisas não andavam como eu realmente havia previsto, eu certamente era quem deveria andar segundo a confluência dos fatos. Neste momento além de fingir aceitar com grande estabilidade as informações que passava a maldita daquela secretária, dissimulei também reatar amizade com as irmãs, que uma delas iria dormir comigo já que o quarto era de dupla face com duas camas em cada parte. Minha alegria provinha de uma falsidade bastante grande, porém meus sentimentos começaram a ficar mais livres e aparentemente verdadeiros, só então neste momento descobri que amava minhas irmãs, pois foi de toda aquela cantoria que recebi no avião que vi que era uma maneira que elas tinham encontrado não só de me bajular como também de demonstrar o afeto que ela tinham em min, num ímpeto de arrependimento comecei a chorar copiosamente pedindo perdão por tantos agouros que havia proporcionado à elas, elas realmente consentiram e entenderam, ou procuraram entender a fonte de tantos desafetos e tantas amarguras. Ainda hoje penso em tudo que me ocorreu, sinto-me bastante feliz por Ter as irmãs que tenho, e vi que no final das contas tudo deu certo, pois casei-me com a secretária, com a qual tenho grande afeição e fiz as pazes com minhas irmãs. Agora vocês devem estar se perguntando o que isso tudo deve Ter a ver com corrida, isso eu não posso responder, pois foge à minha razão, porém que esta, como muitas outras estórias sirvam de exemplo de boa conduta, e que não seja tão somente uma simples história cômica como muitos a julgam.

No comments:

Post a Comment

34 - Pássaros de luz

  trigésimo quarto - Pássaro de luz Vida vida corre vida, corre para lá corre para cá e se esvai, se esvai. Engrandece cresce. O pássaro d...