TERCEIRO CONTO: A sombra que assolava Bellmonte.
Imaginem que
suas vidas dependem da corrida, que justamente num determinado momento de suas
vidas devessem correr para sobreviverem. É muito interessante pensar que se um
negligente ladrão não correr é preso pela polícia, pois então prestem atenção
neste misterioso conto, que foi proferido pelas vozes de diversas gerações de
uma família, em todas as noites de intenso frio todos reuniam-se em frente à
lareira da casa, e quando estavam dispostos trocavam idéias sobre os mistérios
que cercavam a comunidade...
Era esta uma
noite de medo. O frio era muito e acontecia lá fora uma estrondosa chuva, todos
da família, uma grande família, se uniram diante da aquecida lareira para
conversas, as crianças há muito dormiam pois já era tarde da noite. Estavam ao
todo em cinco pessoas, e o mais velho era José da Silva, um ancião. Todos se
aqueciam quando subitamente o ancião grunhiu em uma tosse, que na verdade era
presságio de que ele queria falar algo. Seu rosto estava bastante sério, e
iluminado pelo fogo, por vezes o fogo deixava transparecer a escuridão.
Os estalidos
do fogo que crepitava na lareira eram agradáveis de serem escutados, porém, no
mesmo momento em que o ancião dera o sinal de que iria falar todos se
entreolharam com surpresa, pois já havia bastante tempo da última vez que ele
falara algo imponente como aquilo que estava deixando claro que faria. Assim
José da Silva principiou a falar:
-
Sabem todos que já não estamos no lugar em que
estávamos antes...
-
Que quer dizer com isso pai? – Perguntou o filho
surpreso.
-
Não sabeis então a história do homem que ingenuamente
morreu num lugar longínquo?
-
Não. – respondeu, enquanto todos se entreolharam já
meio assustados com o tom de voz que proferira aquelas palavras o ancião.
-
Então vos contarei o que foi que ocorreu a certo tempo
atrás, nas montanhas de Bellmonte.
Assim, com palavras bastante
grulhentas começou o ancião a falar, todos se viram bastante entretidos com a
narrativa que se seguia...
Antigamente
pensava-se que a floresta das montanhas de Bellmonte fossem vazias, e que
ninguém vivesse em lugares tão inóspitos, porém com o tempo, alguns caçadores
que se aventuravam a invadir a área diziam que viam sombras ou vultos pela
área. Himerk, um destes caçadores era bastante insistente, e decidiu que iria
sempre caçar naquela área, enquanto isso os outros eram afugentados pelo grande
temos que provocavam aquelas sombras pavorosas.
A floresta de Bellmonte é bastante espessa, e possui
animais de variados tipos, Himerk era um caçador bastante valente, porém sabia
distinguir perfeitamente a sombra maligna dos animais que caçava, e certa vez
estava procurando por um javali, mas no exato momento em que iria dar uma
flechada no javali ocorreu que a sombra misteriosa fez com que o animal
simplesmente desaparecesse. Foi muito engraçado, pois o javali de um segundo
para outro não estava mais lá, e nosso
querido personagem ficou espavorido com esta situação, nunca vira ele
ocorrer algo semelhante. Com grande resignação tentou procurar outro animal,
mas no mesmo momento em que iria conseguir capturar o animal ocorreu que o
animal foi envolvido pela sombra e sumiu.
Eram acontecimentos bastante misteriosos, que eram
comentados por todo o populacho, os caçadores sempre fugiam espavoridos, mas
nosso personagem era tão insistente que num destes dias ficou perplexo pelo
fato de descobrir o que realmente era a sombra. Num dia de muita chuva, um
verdadeiro temporal foi ele caçar e se deparou novamente com a sombra que lhe
roubava as caças. Constrangido com o fato de sempre ter de voltar para casa sem
comida e já tendo passado fome a alguns dias ocorreu-lhe a idéia de conversar
com a sombra e então disse à ela da seguinte maneira:
-
Quem é você?
-
Eu sou a sombra – Lhe respondeu ela
-
Isso eu já sei.
-
Então que quer saber?
-
Por quê me rouba a caça todos os dias?
-
É uma simples brincadeira.
-
Não me agrada esta brincadeira. – Disse o caçador
extremamente contrariado
-
Mas o fato é que eu gosto de brincar.
-
Isso já percebi, mas não admito mais
-
E quê fará você diante de todo meu poder
-
Não sei direito ainda.... – O caçador parou uns
momentos para pensar, e na verdade não sabia direito articular as palavras para
com a sombra, pois nunca imaginara que uma sombra pudesse falar.
-
Então espero que quando você souber, me diga sua
opinião à este respeito.
-
Tudo bem...
Ao chegar em casa o caçador,
que vivia de forma solitária, acendeu a lareira e ficou pensando diante do fogo
que estava com muita fome, e queria de qualquer jeito caçar, porém havia uma
sombra malvada que sempre lhe roubava a caça, e de qualquer forma ele deveria
resolver esta situação. Pensou muito, até que num determinado momento chegou à
conclusão de que uma sombra deve sempre Ter algo como base. Partiu para chegar
à esta conclusão do principio de que ele mesmo tinha uma sombra.
No outro dia, no mesmo momento em que a
sombra apareceu para roubar-lhe o jantar, ele gritou impetuosamente:
-
Não faças mais isto monstro!
-
Não profiras tais palavras comigo – revidou a sombra.
-
Pensas que sabes de tudo?
-
Não, em hipótese alguma.
-
Então peço gentilmente para que não venhas a acabar com
todas as minhas caças, pois se assim for morrerei de fome.
-
Por quê não fazes como os outros caçadores que fogem
espavoridos de medo?
-
Simplesmente porque sou um caçador insistente.
-
Gosta de ser cabeça dura?
-
Cabeça dura? Quê quer dizer isso?
-
Insistente.
-
Não somente gosto como propriamente sou.
-
Então quer dizer que estás me desafiando a um duelo.
-
Exatamente, se é isso que quer dizer a senhora.
-
Então verás de que é feita toda minha veracidade
Neste momento a sombra começou
a se transformar em uma árvore gigantesca, as raízes eram verdes, e começou a
parecer um verdadeiro monstro, cresciam cada vez mais suas folhas e suas
raízes, num determinado momento começou a aparecer uma enorme boca com dois
olhos vermelhos e brilhantes, também haviam dentes afiadíssimos no bocarrão, o
caçador era muito valente, mas não conseguiu resistir à tamanha fúria, pois
aquela árvores cresceu tanto que ficou do tamanho de um edifício de 10 andares
e o engoliu por inteiro.
Estando engolido o caçador se viu em um
jardim bastante agradável, tudo parecia ter sido um sonho, neste jardim havia
uma grande mesa, e nesta mesa comidas de todos os tipos, sentados ao longo da
mesa muitos caçadores, acontece que para entrar neste cenário inóspito ocorreu
uma queda, e o caçador de que estamos falando caiu justamente em cima da mesa
que estava lotada de especiarias, ao esmagar todos os tipos de comida, alguns
caçadores que estavam sentados ao redor
da retangular mesa reclamaram avidamente de que assim não era possível comer,
pois à todo momento caiam caçadores loucos na mesa. Assim retrataremos agora o
diálogo que transcorreu entre Himerk e os caçadores da távola retangular:
-
Assim não é possível me alimentar – Disse um dos
caçadores que comia um pernil de javali no momento da queda de Himerk.
-
Perdão. – disse Himerk. – Onde estou?
-
Está bem, lhe contarei toda a história. - Disse um caçador que portava um gigante
machado nas costas. – E assim principiou ele desta sorte: - Há muito tempo
surgiu a lenda s da sombra maldita, e nesta lenda estamos inseridos todos nós,
pois a sombra nada mais é que uma gigantesca árvore que gosta de engolir à
todos os seres vivos que estejam na floresta, sejam estes animais ou seres
humanos, especificadamente caçadores. E nesta farta mesa conseguimos nos
alimentar perfeitamente, já que, tudo o que esta árvore come cai em cima desta
mesa.
-
Mas que história mais estranha! – Volveu Himerk com
bastante ênfase na palavra estranha.
-
É estranha e alegre, pois desta forma podemos comer
tudo o que esta árvore come, pois quando ela come os animais silvestres, estes caem exatamente em
cima deste desta mesa, e com isso nossa mesa esta sempre farta!
-
Excelente idéia. Porém tenho uma grande dúvida.
-
Qual perguntou o brutamontes do machado gigante.
-
Há quanto tempo vocês vivem neste lugar estranho?
-
Alguns estão aqui a mais de 10 anos.
-
Quê coisa terrível – Exclamou Himerk, pensando na idéia
de Ter de ficar ali mais de um dia.
-
O fato é que gostamos muito deste lugar, é lógico que
às vezes nos deparamos com alguns problemas.
-
Quais?
-
Há momentos em que a sombra têm indigestão.
-
Por quê teria?
-
Houve um dia em que ela engoliu um caçador muito gordo,
este pesava mais ou menos 250 quilos, quando caiu na mesa além de parti-la em
dois pedaços matou dois de nossos colegas.
-
Creio que este seja fato bastante natural aqui.
-
Há uma média de dois magros para um gordo, porém esta
média está mudando cada vez mais, pois ultimamente os caçadores têm ficado cada
vez mais magros.
-
Por quê? Perguntou Himerk ingenuamente,
-
Por causa da própria sombra que come a todos os animais
da floresta.
-
Há alguma saída deste lugar horrendo em que não há
lindas donzelas? –Perguntou o caçador curioso.,
-
Até agora não decidimos procurar, sabe como é, né....
as coisas vão acontecendo e tal...
-
Mas quê ignor6ancia! – Gritou o caçador indignado com
aquele fato. – Como podem vocês ficar o dia inteiro sentados em cima de uma
mesa após serem engolidos por um monstruoso bicho? Quero logo saber o que
podemos fazer para sair deste lugar.
-
Boa idéia. - Disse Dani, que era o grande caçador do
machado grande. – É algo que confesso nunca haver pensado antes, quero dizer à
você que esta é uma idéia inteligente e sábia
-
Pois vocês são pessoas estagnadas, que com sinceridade
de um caçador direi: ficam esperando que as coisas fiquem caindo do céu.
-
Não digas isso amigo, pois lhe consideramos muito por
ser caçador, disse outro caçador extremamente gordo que comia cinco fatias de
carne assada de uma só vez.
Himerk fez amizade com todos os
caçadores que viviam naquela mesa, e após meia hora de conversação,
influenciados pelas idéias de Himerk, todos os caçadores em um grande conjunto
decidiram ir correndo até os confins daquele jardim, foi uma corrida bastante
longa, em que alguns não conseguiram completar, e pararam na metade do caminho
para vomitar, mais ou menos 15 caçadores conseguiram completar o percurso, que
era cercado de verde repasto e um céu azul esplendoroso. No final de tudo, o
percurso acabava em um tecido esponjoso muito estranho, uma gigantesca parede
que não tinha final para os lados, tampouco para cima, parecia se estender
infinitamente.
De forma bastante discreta um caçador
perguntou a Himerk, julgando que este era um caçador muito sábio:
-
Quê será isto?
-
Parece ser uma parede infindável – Constatou Himerk.
-
Mas isso é evidente – volveu ele. – Creio que
deveríamos concluir que parece ser o tecido epitelial de nossa amada sombra.
-
Quê?
-
A pele do monstrinho...
-
A sim...
No momento em que foi
constatado que isso parecia ser a evidência mais verdadeira todos os caçadores,
em uma ação conjunta rasgaram aquela parede estranha utilizando suas armas,
conseguiram deste modo sair pela barriga do monstro sombra com grande alegria,
espavoridamente o monstro deu seu último grito na vida e morreu.
Neste momento
o ancião concluiu com palavras breves porém sabias.
-
Vejam meus queridos filhos, que, a corrida a pesar de
parecer algo estranho pode tirar os homens de estranhas sombras.
Todos ficaram pensativos com o
conto, e no outro dia experimentaram correr, tendo uma sensação de que certa
forma saíam de alguma espécie de sombra, experimentando vida nova.
Sucintas conclusões:
a)
A corrida nos liberta das sombras da obesidade.
b)
Não desafie o desconhecido.
c)
Em caso de ser engolido: procure a saída.
d)
Não se contente com ficar estagnado na vida.
e)
A corrida liberta da ignorância.
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