Décimo oitavo conto: O discurso da lembrança
Num
ambiente descontraído, sim, um “hapy hour”, estavam um grupo de amigos
conversando sobre assuntos diversos, sim, assuntos fúteis, destes que se
conversa no dia a dia. Não é de se estranhar que tudo o que se possa imaginar
deve hoje ser rápido, fácil e lucrativo. Neste grupo de amigos entretanto havia
uma excessão, sim, uma excessão, um senhor lá de seus 50 anos, bem vivido, que
era lá na empresa considerado como bastante esquisito, estranho. Sim, um sujeito
para lá de peculiar, seu nome era Adalberto, e portador de um aspecto sisudo,
bastante sério, chegando até a ser de tão sério um tanto sombrio, alguns o
consideravam louco, outros esquizofrênico ainda que tanto uns quanto outros
chegavam ao consenso de notar sua criatividade fora do comun. Era Adalberto um
senhor introspectivo, com cabelos já em pouca quantidade e olhos de
profundidade hipnotizante, em geral pouco falava, mas quando resolvia soltar o
verbo por certo sempre havia grande maquinação por trás do que viria à tona.
Por isto, mesmo tendo uma fama não muito invejada era considerado nobre e de
caráter correto.
Foi
nesta ocasião, naquele “Happy Hour”, entremeado num assunto loquaz e sem rumo
certo ou nexo de lógica, que Adalberto decidiu interferir no assunto de maneira
consisa e enfática, deixando os outros enquanto falava boquiabertos, causando à
uns um assombro fora do comum, noutros uma atitude de devoção, paixão e um
misto de contemplação e veneração.
-
Meus amigos, há muito pretendia dizer-vos algo, não obstante não
encontrava momento oportuno para tal, e agora, justo neste momento, quando vejo
que a sociedade, e nossa pequena sociedade sobretudo perde de si os valores
mais profundos que podem perpassar um grupo, doando-lhes sentido, vigor,
motivação e sentido de existência é que desejo exprimir umas quantas idéias.
-
Mas quê idéias são estas Adalberto? – Perguntou um homem franzinho, de
óculos elegantemente pequenos – Há muito que não dizes nada, e agora, tão
derrepente deseja falar?
-
Isto mesmo Marcos. – Falou Adalberto, sem direcionar seu olhar
exatamente ao outro, mas deixando-o um tanto vago como se quisesse penetrar
tanto em Marcos a ultrapassar seu corpo. – Há no mundo homens distintos entre
si, no entanto a característica mais notável entre todos é a sinceridade, ao
menos é isto que vejo nos olhos de cada um que aqui está. E mesmo que os
assuntos sejam de caráter corriqueiro tenho a percepção de que este caráter
somente se dá na razão e na lógica do pensar, mas que em sua essência se
relacionam com um consciente mais profundo de cada um. Ao mesmo tempo que
dizemos coisas banais transmitimos coisas profundas, é isto uma percepção que
tenho.
-
Bastante plausível tuas idéias. – Disse um personagem, ao qual não
vamos referir nem o nome nem a aparência para o leitor, mas sim que disse isto
sem entender patavinas do que fora dito, em seguida propôs um brinde às
fantásticas idéias do amigo com gestos empolgantes e vivazes.
-
Sim meus amigos. – Disse Adalberto, numa postura fechada e
introspectiva, olhando para algum lugar que a quem o olhace imaginaria estar
num longínquo horizonte. – Vamos brindar o dia a dia mundano, brindartemos as
preocupações que ocupam toda a nossa capacidade de percepção da realidade,
brindaremos a falta de silência, brindaremos a constante mácula que assola
nossa vida.
-
Quê dizes? – Perguntou marcos bastante interessado.
-
Que os dias de hoje são tão profundos quanto os de ontem, o que se
desvaneceu foi apenas a percepção de que tudo continua igual.
-
Estás desembestadamente louco este nosso amigo – Volveu o mesmo ingênuo
que quiz brindar. – Curiosamente não tomou nenhuma.
-
Tomei sim meus amigos, no entanto o cálice foi mais amargo do que
possam imaginar os senhores: o cálice da sabedoria, que traz consigo um peso
incrível, pois, o triste é daquele que imagina saber quando na verdade se afoga
na poça da ignorância, este é feliz quando percrusta obscuras sendas da
perdição. O que já detém o conhecimento não se arrisca a ser feliz.
Após este profético discurso todos
ficaram por um momento em silêncio, num tom reflexivo, como no intento de
decifrar caracteres que não conseguiram assimilar. Alguns com um ar de galhofa
fizeram um ou outro comentário engraçado tentando demonstrar feições
despreocupadas, o que era impossível dado ao fato de que foram atinjidos
profundamente pelas verdades que haviam sido reveladas. Outros ficaram
estáticos, completamente calados, numa postura eclesiática, quem prestou
atenção percebeu claramente que alguns fios de cabelo de suas cabeças
levantaram em reverência ao sábio que ali estava. Tanto uns quanto outros
perceberam o peso moral da seriedade de Adalberto, pois aqueles que o levaram
como um saltimbanco louco não sabiam que seus conscientes profundos o
reverenciaram, os que ficaram em silêncio não entendiam exatamente o que fora
proferido pelo homem, e talvez até por isto o respeitaram com afeição
inequívoca.
Após esta pequena conferência existencial
Adalberto calou-se, sem reparar a reação dos circunstantes, simplesmente
levantou-se, e num tom absolutamente fez menção de cumprimenta-los com as mão,
gesto que não completou, olhando-os nos olhos por breves instantes abaixoi a
cabeça, e como se quizesse ir embora virou-se no sentido da porta daquele
estabelecimento, ficou ali parado, os que estavam sentados não entenderam, por
isto ficaram sem reação sem sabr se chamariam-no de volta ou diziam thau. Foi
pouco depois que ele virou-se novamente no sentido da mesa, e olhando à todos
com profundidade e magnitudes inconcebível disse veementemente:
-
É meus amigos, há tempos venho recalcitrando em questões que me
infundem desespero e alegria ao mesmo tempo, pois assim é todo o conhecimento
perene, tem vertentes completamente distintas, é por isto também que se anula
em si mesmo, e faz com que o tudo que se possa conhecer não exista. Mas não
fujo ao assunto que aqui me traz novamente – Disse isto como se houvesse
realmente ido embora e retornado mais uma vez, o que ninguém, definitivamente
ninguém riu não porque não perceberam nesta questão, mas sim pela sinceridade a
alcance daquele olhar incisivo. – Estou aqui novamente por causa das lembranças
que me assolam, já pensaram vocês nas lembranças? Estas imaginações fugazes,
fugidias, imprecisas que nos chegam em momentos que não são por nós escolhidos
em horas presisas, senão como por vontade delas mesmas nos momentos em que elas
julgam oportunos. Que para nós podem condizer com momentos inoportuno. Sim,sim:
estas incontroláveis imaginações já vividas que nos perpassam pela mente numa
cadência desordenada, que não chega tão somente à raz~```ào senão que
audaciosamente chegam às sendas do coração, incindindo às vezes em fenômenos
corporais como aumento da frequência cardiaca, e em explosões respiratórias. Há
lembranças, vocês são vivas, têm vontade própria, todas vocês vivem dentro de
min. Como são belas...
Adalberto, num extase provocado por seu próprio monólogo curvou-se em
reverência à suas próprias idéias, todos o olhavam embasbacados esquecendo-se
até de onde estavam ou quantos pudessem estar notando a atitude distinta do
comparsa.
-
Vamos Adalberto, todos entendemos suas idéias, que aliás são
profusamente interessante, no entanto9 estamos com certos problemas que devem
ser debatidos, não que isto não nos interessa, não, não, isto em hipótese
alguma. Sabe, errr, é que tudo o que discorremos não é exatamente filosofico,
quer dizer, até é, mas temos uma premencia de assuntos mais importantes, não
que este não seja...
-
Cale-se! - Gritou Adalberto
impaciente, fazendo não só com que ele se calasse como ele mais metade do
estabelecimento, o que foi tragicômico e dramático à todos os envolvidos com
aquela cena pitoresca e pouco divertida. -
Não disponho de tempo para suas desculpas ignóbeis meu amigo, aliás devo
ausentar-me para não pagar mais o preço de minha própria sabedoria, não que não
seja educado porque isto julgo ser portador, mas não suporto que de maneira tão
repetitiva o senhor permaneça nesta impertinência descabida. Senhores: Adeus!
Assim Adalberto, o peculiar integrante
daquele grupo deu meia volta e foi-se a passos firmes e resolutos, numa atitude
brava e heróica, enquanto os outros se recompunham da maneira a transparecer o
menor contrangimento possivel, o que efetivamente era utópico, dado às
proporções da situação criada por Alfredo. É assim que a partir deste dia todos
passaram a entendê-lo pouco melhor, aprendendo também que Adalberto não era
somente um louco errante como um profundo provocador das situações mais
diversas da vida, é no detalhe que se encontra a solução, é na profundidade que
está a sinceridade, é na filosofia que está a verdade.
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