Thursday, October 31, 2024

17 - Cidade de isopor revisão da vida

 

Décimo sétimo conto: CIDADE DE ISOPOR, REVISÃO DA VIDA

 

      Uma cidade louca! É sim! É nisto que eu moro, as oportunidades de emprego são cada vez menores, os pedestres são desconsiderados pelos engenheiros com calçadas cada vez mais horríveis, deploráveis por certo estas calçadas que para um carro subir são construídas num ângulo de 45o , e nós caminhantes, simples e humildes caminhantes quando passamos por estas calçadas devemos nos condicionar a fazer muito mais força com uma perna que com a outra, já que é uma que sempre desafia uma elevação relativamente maior, talvez artrite a artrose, tendinite e micro-fraturas sejam os menores males a serem por nós caminhantes adquiridos, isto se deve ao fato de que os males mais incisivos estão nos âmbitos psíquicos: a sensação de desrespeito e a assimilação forçada de desvantagens como esta, que podem erroneamente ser consideradas como fúteis, mas que numa análise com pouco mais de bom senso e discernimento adequado notam-se singularidades tais que me fazem pensar como é louca esta cidade! Talvez um pouco sombria, sim sombria pela solidão, portas fechadas, paredes, concretos armados em retas de todos os ângulos, não se vêem mais as árvores com suas belezas incertas. É no ambiente que se segue o humano, pois somos resultado do que nos proporciona o local donde vivemos, logo, se vivemos num ambiente desarmonioso será nossas vidas tão besta quanto seja este.

      Assim pensava Richard enquanto andava numa calçada de péssima qualidade, em sua cidade, andava ao léu, sem outras preocupações que não fossem aquelas inerentes ao presente momento, às reclamações e conjecturas relativas à sua realidade. No entanto pouco sabia Richard que pudessem haver coisas mais importantes, profundas e dignas e conotação que não fossem seus insignificantes pensamentos, e suas injúrias ao seu ambiente, muito menos pudera ele imaginar que fosse assaltado por realidades mais profundas, foi isto justo o que ocorreu quando ele olhando avante, pensando nas dores que percebia na parte lateral distal de sua perna, mais ou menos na altura dos músculos Gastrocnêmio e Sóleo, notou que os prédios que via pareciam desmoronarem.

      Quê é isto? Não pode ser, estes prédios estão caindo. No entanto não fazem sequer um ruído, como estará isto ocorrendo? Estarei eu tão fora de min?

       Os prédios caíram por completo, como isopor, pois não produziram sequer um ruido, o silêncio era tanto que por instantes Richard imaginou que estivesse com problemas nos tímpanos, e que por este motivo nada pudesse ouvir, pensou em sair correndo no sentido inverso ao que ia para escapar daquela tragédia, para sua surpresa os prédios que estavam do outro lado caiam da mesma maneira.

       Tudo caiu completamente, até o chão que ia debaixo de seus pés, então Richard, sem tempo para pensar caiu num abismo profundo, tão profundo que segundo as estimativas levou cerca de 12 horas para chegar ao final, que correspondia à uma belíssima piscina, em forma de estrela e com água de temperatura bastante fresca, principalmente após uma queda aterradora destas.

-             Que desespero que sinto, meu coração se confrange em sentimentos confusos, coisas que n~`ào posso entender, estava caminhando tranquilamente sem muito reclamar e repentinamente a cidade desaba diante de meus pés e caio neste prolongado abismo, quase que sem fim, mas pelos Deuses, onde o drestino pôde audaciosamente me levar desta vez?

-             Não me digas que não desconfia? – DFisse um senhor que, descansava numa belíssima cadeira de verão, destas de praia, constituida de miríades de canudinhos verde claro, sim, um verde limão.

-             Quêm é o senhor?  - Disse Richard embasbacado, tendo medo de suas próprias desconfianças. – Acaso é o senhor um padre?

      Entrelinhas, é necessário que façamos neste momento alguns comentários à parte, pois aquele homem a que Richard se dirigia não era exatamente um padre assim como ele ingenuamente proferiu, mas tinha lá seu ar de espirituosidade, já fazia algum tempo, sim, um bom tempo que perambulava por aquelas bandas, lá no centro do mundo haviam muitas vantagens com relação à vida na cidade, e ele por certo há muito desfrutava destas vantágens, há cerca de trezentos anos para ser mais preciso. Mas, para infortúnio de Richard não era ele um padre senão um compatriota de Mefisto. Que olhou para Richard com tanta malícia, que este percebeu enganar-se no que disse, volvendo a dizer com bastante cautela:

-             Se não é um padre será o senhor o demônio? Que vive neste inferno? Aliás, como todo o respeito, isto parece mais um clube campestre que aquilo que prega a igrejá, é, esta piscina mesmo é de temperatura revigorante, vejo mais ao longe uma gente pitoresca e diferente dos humanos jogando golfe, outros alí com a bocha, mais uns... Quê poderão ser aqueles senão magos, com aqueles chapéis gigantescos e cabelos e barbas brancos e longuíssimos, sim ao que me parece jogam uns baralhos. E o senhor nesta cadeira: Quêm é?

-             Digamos que sou um amigo, ou que há muito te conheco...

-             Não me conhece.... Efetivamente, posso assegurar-lhe que não me lembro de sua feição, esses olhos tão maliciosos, perdão tão ambiciosos retifico, por certo a ambiç~```ao considero que é uma característica que todo ser humano bem sucedido deve ter, sabe? Sim, pois estou dizendo: ambição nos negócios, dinheiro, até na paz e bem aventurança é necessária a ambição. Mas estes teus sobrolhos me parecem relativamente sombrios. Não gosta deste clube?

-             Gosto tanto que vivo por aqui, é, aqui há muita gente, tanta gente que posso supor que os daqui superam em muitos a população total terrestre, e gostam, assim como eu de vaguear por aqui, há muito o que fazer, diversões das mais interessantes, todos os prazeres e deleites pode encontrar aqui.

-             É, lá para cima não venho encontrando tantos motivos para vangloriar-me numa suprema alegria, mas sabe, venho pensando ultimamente que os mais simples momentos são às vezes aqueles que corresponde ao viver pleno e completo. A alegria, até a alegria se transformou num bem de consumo, vende-se sorriso. Venho refletindo, é verdade que mais reclamo da vida que reflito, mas por certo há escassos momentos de sobriedade em minha vida, nestes momentos penso que é mais certo a tristeza sincera que uma alegria supérflua. Devemos ser sérios com todos os sentimentos humanos, há todos os tipos de sentimentos, que devem ser vivenciados de maneira sincera, se é seriedade assim será, se é alegria exacerbada assim será, se é medo assim será. E, para todos os sentimentos haverão características que os guiarão, que são coragem, criatividade, vontade e por fim que a união destas com todos os sentimentos formem aquilo que se chama vida. – Assim disse Richard num ímpeto dialético que lhe deixou de tal forma empolgado que se esqueceu inteiramente de seu interlocutor, que à esta altura franzia a testa e quase caia da cadeira de tão nervoso, o suor escorria pelos poros, e quase não se aguentava.

-             Calma amigo! – Gritou o compatrióta Mephistólico, cujo nome era Hércules – Calma, não são necessários tantos devaneios para descobrir-se sentido à vida, somente poucas palavras, e há vezes que as palavras são recursos inócuos na busca das vivências mundanas, ainda mais das espirituais. Portanto chega de palavras e vamos às vivencias. Venha conhecer meu pequeno clube: haverão por certo locais agradabilíssimos, jogos que serão de teu interesse, pois já te conheço a aura por inteira, não podes fugir às tuas próprias fraquezas

      Hércules levantou-se com ares de elegância da cadeira, trajava um smoking de cor incerta pois conforme se via de angulos diferentes mostrava-se de tons vinho, preto e até um laranja escuro, o que lhe conferia um ar além de grande seriedade, de palhaço ou polichine-lo, não se aguentando quando notou tal peculiaridade Richard pôs-se a rir despreocupadamente, o que não agradou em nada à Hércules que cerrou os cenhos, mas espertamente após breve momento fingiu não dar importância e pôs-se a sorrir calorosamente enquanto mostrava o clube à Richard em toda a sua completude: com quadras poliesportivas, campos de futebol, espaços para baralho e jogos de salão em geral, alguns bares onde beberrõers tomavam ums e outras enquanto conversavam sobre futilidades diversas ou teorizavam muitos assuntos. Subitamente hércules apontou uns prédios e disse:

-             Aqui, meu amigo Richard são os edifícios que constituem as acomodaç~`òes mais amplas e confortáveis das redondezas, como pode notar os prédios são de pedras extraídas das pirâmides de Quéops no Egito. Como é? Não sabia? É justamente o que se passa por estas bandas... Como aqui as criações inteiramente novas são dificultadas por extrema falta de ectoplasma o que nos resta, injuriosamente, é plasmar o que já está no plano terreno e restituir à nossa maneira peculiar, ao nosso gosto tudo o que lá é construido. Verás, meu caridoso e inteligente amigo, que nosso bom gosto é por aqui muito mais proveitoso, pois este hotel possui todas as comodidades de um moderno e atual hotel, e contruido com as mais antigas e clássicas edificações da superfície. Como? Não Concorda? Por favor... O senhor há de convir que estas coisas são de extremo bom gosto, estes corredores que vê possuem quadros de épocas áureas da história humana, os pisos estão revestidos de tapeçarias das mais requintadas, as paredes com quadros dos mais caros e belos. Há então é isto? São os nossos clientes, estão apenas usufruindo. O barulho lhe incomoda? É que eles são à vezes ignorantes e se deixam levar pelos instintos mais levianos, com exacerbada displiscência, é... Neste aspecto devo concordar com o senhor... Outros nem fecham a porta...

-             Não. – Disse Richard indignado, enquanto o outro punha uns óculos escuros e apresentava cômodo por cômodo, enquanto ruídos diversos entravam pelo corredor afora, alguns eram passiveis de interpretação racional como duas pessoas ou mais conversando, outros eram ruidos amorosos, mas uns pareciam escandalosos como gentes profetizando, grunhindo, gritando, em cada cômodo que se passava percebia-se variedade incomensurável de tipos de sons, palavras, frases. Noutras ocasiões percebiam-se idiomas ininteligíveis, cantos belos, cantos feios. – Não consigo entenmder, quê tipo de gente é esta que frequentam o seu clube? Parecem desgovernados! Isto é definitivamente inaceitável, pois noto que o senhor, deculpe, mas o seu nome? Sim, como dizia: Noto que o senhor Hércules me parece tão comedido, tão inteligente, sábio e talvez precavido, mas é sem sentido ver o tipo de seres que frequentam teu clube, como pode isto?

-             Há, meu amigo? Não apreciaste este tipo de gente? É verdade, pois eu, até eu, às vezes penso estar perambulando no meio de uns loucos varridos. Gente que se diverte com pouco, que se satisfaz com os prazeres presentes, não pensa no amanhã. Mas essa é justamente a gente da sua laia: a gente humana, essa coisa que se coloca aí fora de sentido e sem nexo. Quê é isto: a humanidade? É por isto que caem por aqui pencas e pencas destas frutas, a maioria nem chega a amadurecer e vêm aqui ter comigo, no meu clube, por aqui se divertem e se matam de rir. Se matam foi boa, foi muito boa pois há muito estão mortos, mortos em seus próprios prazeres. – Hércules por um momento vacilou o passo e olhou Richard nos olhos, seu olhar não era benévolo, e resguardava até um ar de maldade e incredulidade, e foi neste momento que empurrou uma das portas do corredor que se encontrava semi-aberta, depararam-se com uma cena patética e impressionante, pois do outro lado um homem de aparência doentia, com uns olhos esbugalhados de tão abertos contemplava tesouros dos mais diversos: moedas, pedras preciosos, candelabros de prata. – Veja este aí, coitado, sofre de cobiça, levou toda uma vida para não conseguir perceber que a única coisa que pode dar respaldo ao coração humano é o amor entre as pessoas e não pelos objetos inanimados.

       Logo fechou a porta e prosseguiram a caminhada, no entanto Richard estava muito triste agora, pois desconfiava vivamente de que não estava num clube mas sim em qualquer outro lugar, será que estava num hospício? Não, aquilo não podia ser pois não existiam mais hospícios desta feita, muito menos tantos quilômetros abaixo da terra.  Seu rosto começou a transparecer um nervosismo fora do comun, o que foi percebido prontamente por seu companheiro Hércules um discípulo de Mephisto, que destas coisas muito entendia, e vibrava quando alguém começava a perceber donde se encontrava sem que ele precisasse providenciar elucidações precisas.

-             Por certo, meu amigo, noto em sua feição que se encontra cada vez mais a par de sua realidade.

-             Minha realidade? Como assim? Que quer dizer o senhor com isto?

-             Não sabes exatamente quê representa meu clube? Ou serás ingênuo a tal ponto a ignorar isto?

-             Claro, claro que sei. – Disse Richard assustando-se com as conjecturas de Hércules, que a cada palavra que falava mais esboçava um intrigante sorriso. – Sim, claro que sei, pois vim intencionamente para cá, sim intensionalmente.

-             Oh! Como me comove amigo meu, suas frases são tão verdadeiras que me daria a liberdade de criar um poema em torno delas, ou uma música, sim uma música em homenagem à intensão humana, homenagem ao livre arbítrio à expansão do pensamento e aos livres passos que exerce diariamente a humanidade. Mas que será a liberdade? Vós que julgais caminhar a donde bem entendem, vós que sois os culpados dos próprios erros. Há Há – Riu desembaraçosamente Hércules, enquanto pensava sobre a ingenuidade do outro querendo enganar-lhe.

-             Está bem, é fato que talvez não tenha sido tão intencionalmente assim.

-             Quer dizer então que na tua vida foi obrigado a fazer tudo o que fez? Isto absolutamente não me convence.

-             Não, vivi com espontaneidade!

-             Quer dizer – Conduiu Hércules maliciosamente. – que errou com espontaneidade.

-             Não Hércules, creio que o senhor esteja errado, pois o erro é parte da liberdade humana, do contrário não seríamos livres, mas sim fantoches de Deus, no entanto, a partir do momento em que Ele nos criou em espíritos nos dotou de liberdade. O erro é parte importante na construção do drama humano, sem drama não há vida, não há dor, nem sofrimento, nem lágrima que são as coisas que fazem a alma humana enlevar-se em si mesma.

      Por momentos não sabia-se o que ocorria com Hércules, pois deu-se lugar à um misterioso e m,ágico silêncio, noutro momento Hércules pareceu balbuciar algumas frazes, tão baixas que a quem colocasse os ouvidos em sua boca pouco ouviria, no entanto suporia que conduia ao que havia dito o novo integrante de seu clube.

      -      Ora estas, tú me vens à este lugar, conforme minhas teorias por tua própria vontade, pois quem decidiste tua vida fora ninguém mais que sua própria pessoa, e me dizes que o erro é parte de um acerto mais abrangente... Queres fazer ruir minhas teses... Talvez tenha eu vacilado por momento ou outro, mas deixa disto, meu amigo, vamos conhecer os outros andares, e se possível te mostro um elevador que tenho lá por cima, no último andar, lá as vantagens virão para ti e para min. Sim vantagens recíprocas, pois noto que caiste em lugar errado, que seleção péssima fui eu fazer... Como?Não entendeste? Nada não, apenas aprecie estas instalações, alí no elevador há uns botões, aperta logo o último que há outra parte do hotel mas conveniente, e não vêm mais ter comigo que estarei muito ocupado cuidando de manter este hotel, que como vês representa a própria pérfida e denegrida consciência humana. Se podes descer? Há, quanto a isto definitivamente não, vai ter com os teus que tua sinceridafde será por lá mais profícua, aquí há tanta lassidão, tanta pobreza de espírito, amarguras e distorções que só provocam momentos incertos de felicidade. Quê é ao certo a feliceidade? Como poderemos nós aqui de baixo à isto responder? É fugidia a nós a felicidade perene, com isto ficamos apenas com um reflexo dela parcial e imperfeito, esta foi nossa sina por viver tão descompromissadamente.

      aSSIM, APÓS DE MANEIRA RÁPIDA SUBIREM MUITAS ESCADARIAS CHEGARAM À CERTA ALTURA DAQUELE SUNTUOSO EDIFÍCIO QUE HAVIA UM PEQUeno vestíbulo com o espaço pouco donde cabia somente a porta de um elevador, que curiosamente não era funcional para o prédio em si, mas somente para subir além do último andar do prédio, e para a surpresa de Richard, lá dentro havia um homem cisudo, nariz adunco que disse que há muito lhe esperava naquele local, dizia ser um emissario celeste, um anjo guardião, o felicitara por sabiamente haver chegado àquele local, Hércules evitou previcadamente seu olhar, de tão moralista e correto que era, e empurrou Richard educadamente para dentro do elevador, dizendo que tanto uma parte quanto a outras ficariam com boas vantagens neste procedimento: - Que vá! Que vá! Boa seja a tua sorte, não venha nos atazanar que estamos bem! Va lá! Va lá! – O guardião celeste aproveitou a deixa para dizer: - Esperamos ainda a tua decisão, no dia em que quiserdes hipotecar, vender, alugar este teu estabelecimento estaremos lá por cima à tua disposição. – Por breve momento Hércules pareceru hesitar em entrar no elevador, mas logo convencveu-se a si mesmo que o mais vantajoso a si seria ficar com suas ilusões, desceu outra escada aos tropeços enquanto o elevador subia vertiginosamente às osanas nas alturas.

No comments:

Post a Comment

34 - Pássaros de luz

  trigésimo quarto - Pássaro de luz Vida vida corre vida, corre para lá corre para cá e se esvai, se esvai. Engrandece cresce. O pássaro d...