Thursday, October 31, 2024

19 - O pintor de sonhos

 

Décimo nono Conto : O pintor de sonhos

 

 

      Efetivamente, a única coisa que fazemos enquanto vivemos, excluindo as coisas fúteis é buscar o sentido da vida, no intuito de algo discorrer sobre este mesmo tema, na possibilidade de acrescentar algo de útil à nossas existências está este conto, considerado por muitos como uma ilusão, no entanto por outros uma profética revelação das verdades humanas mais profundas, supostamente a revelação mais reveladora que se posa encontrar em milhares de anos. Não é qualquer presunção de minha parte dizer isto, pois por muito tempo pensou-se que os contos tivessem apenas o caráter de distração, após muitas gerações os mais felizardos tiveram a sensibilidade de notar que a linguagem dos contos traduzem as problemáticas humanas mais sinceras. Assim que inserimos aqui este conto para ilustrar a problemática mais essencial, a raiz de tudo, a origem: a própria existência:

      Estava Américo dormindo em sua casa de campo, uma casa de excelentes proporções, onde sempre que possível fugia às obrigações do trabalho intenso e fatigante para ter com os seus em seu refúgio campestre, era lá que se refazia da própria vida que levava. O que nos parece uma paródia: se refazer da vida, como se a vida não pudesse ser denominada com este nome: “vida”, os fatos mais atuais têm demonstrado que a denominação mais adequada para esta estrada pela qual perpassamos devesse ser algo como “desgaste” ou “tormento”. Assim perguntar-se-ia: 

      Não! Não podemos nos precipitar, pois tudo o que aqui será dito é relativo ao periodo de tormento, e não ao de vida de nosso personagem Américo. Alí estava ele, tranquilamente acendendo um cigarro, extra-forte daqueles que acendia sempre quando ficava mais tenso, mas tenso porque era tenso por natureza. Efetivamente vamos ver quê pensava ele neste momento.

       Não consigo me entender, estou cada vez menos atarefado e cada vez mais fatigado, a vida vêm me concedendo momentos exaustivos, trabalhos infindáveis, caminhos medonhos, verdades vãs, tudo perece obscurecido por algo invisível, mas que provoca uma sombra das mais pérfidas. Neste pátio tão belo em teoria não consigo ver a luz que se depara diante de meus aolhos, não sinto mais a fragância das rosas que suavemente pupulam com um ressoar de ventos longínquos, sim  o ressorar destes ares rápidos e apressados das folhas de árvores desconhecidas. Onde estarão indo eles senão de encontro às minhas narinas, e aos meus pulmões que há muito nada conhecem senão o vício torpe e maléfico da nicotina. Vejo que o destino me reserva caminhos desesperadores, me esconderei em min mesmo fugindo ao mundo que me cerca, soarão os cânticos mais tristes, as ladainhas mais cansativas, morrerei! Sim por certo é isto que me ocorrera. E não irão todos à este mesmo poço? Não acabarão todos suas ações ineficientes, improdutivas e  inócuas sobre a terra. Vejo que se porventira, oh, mas que pensamento, se porventura alguém pudesse ler o que penso estaria perdido. Sim, a pessoa se perderia juntamente comigo, talvez eu à levasse donde não quizesse ir, pois tal é a proporção de minha desgraça que vejo influenciar até os que andam comigo: amigos, parentes ou mesmo conhecidos. Haverá solução?

      Isto foi o que fizemos, entrar na mente de Américo enquanto fumava por alguns instante, de sorte que percebemos a dimensão de seu aspecto grave e medonho, mas este não foi seu derradeiro fim, senão começou a perceber que trabalho era bom, mas não era tudo o que dispunha na vida. Era uma pessoa inteligente, mas há muito parecia ter perdido a sabedoria para o discernimento exato do que podia fazer para bem viver. Decidiu, num ímpeto intuitivo fazer um curso de pintura, de fato, nunca havia pintado antes, no entanto vendo um anúncio no jornal sentiu-se por momentos incitado a logo virar à outra página a ler as terrificantes notícias do diário policial, mas sua idéia veio a calhar quando numa espécie de surto epiulético sua mão não quiz obedecer-lhe a ordem que seu cérebro enviava em transmissões sinápticas, o que no momento julgou bastante curioso, ficando encomodado e ao mesmo tempo encabulado já que à esta altura estava no metrô, e todos o olharam espantados não exatamente por ele não haver virado a página mas sim pelo modo como ele franziu o cenho, como se estivesse tomado derrepente por pensamentos que não lhe agradavam, isto é o que pensaram os circunstantes do trêm do metrô. Após este episídio tragicômico decorreu que o fato de não haver conseguido virar a página f^%ez com que ele desse, ao acaso, um pouco mais de atenção ao anúncio das aulas de pintura, lembrou-se automáticamente do momento em que fumava preocupadamente no pátio no horário de almoço, e relacionando aquela triste situação com o anúncio do jornal, e todavia com a estressante situação pela qual acabara de passar pensou uma vez mais o que teremos a oportunidade de ler, já que a literatura dispõe de determinadas vantagens com relação à muitas outras artes, e com relação à própria vida real:

      Mas que merda! Minha mão não que virar a página, é o cúmulo eu ter chagado à esta situação vergonhosa, assim vou denegrir minha imagem de respeito, e até um pouco de soberba, devo confessar, que imponho lá no trabalho, que são atitudes essenciais para que eu continue mantendo um posto tão elevado por lá. Mas veja isto, que coisa horrível, quer dizer, eu já tinha lido antes, e agora me parece algo aprazivo: um anúncio de cigarros da Mona Lisa, quer dizer, não era isso: Aulas de artes três vezes à semana, e ainda têm mais: Estudos aprofundados da história da arte com seus respectivos momentos de prática artistica, venha ser mais um diletante amante das cores e da enlevação do sentir. Mas que palhaçada é esta? Quer dizer, é um tanto diferente, e se possivel irei procurar esta escola de cigarr... quer dizer: de artes. Isto é definitivamente inconveniente, se acaso alguém pudesse ler meus pensamentos aqui neste metrô me tomariam como um louco, pois além de não controlar minhas mãos, mesus pensamentos parecem tomar uma liberdade inigualável, não, não posso estar sofrendo de personalidade dupla, isto que os psicólogos dizem, estas loucuras... Estarei eu em tal estado de insanidade que penso com tal contrariedade de idéias? Magnífico! Todos olham para min com estas caras patéticas e pasmas, estarão percebendo minhas reflexões? Não, não, isto seria impossível, de fato telepatia é uma coisa que proveio da fértil imaginação humana. Ora bolas, veja só em que situação me encontro, há já está chegando minha estação, vou me vingar de todos levantando-me de supetão, assim estes paspalhos vão se arrepender de ter rido de min, ora, mas que gente sem escrúpulos, gente assim não merece os olhos da cara, olho por olho dente por dente, todo homem têm o seu preço, tempo é dinheiro, tudo tem o seu limite, melhor um pássaro na mão que dois voando. Arrevoá.

      Assim, com um bom contingende de pensamentos aleatórios e distoantes Américo levantou-se aos tropeços, pois não notou um grande pacote de um ambulante que estava no chão do trêm, aos trancos e barrancos se desvencilhou de tanta gente que por mom,entos pensou que não iria conseguir sair naquela estação, fato que infelizmente se realizou, tendo ele que fazer uma demorada manobra para pegar o metrô no sentido inverso para efetivamente descer no lugar pretendido. Seus infortúnios eram muitos, sempre colocava a culpa destas desventuras na própria vida, quando na verdade a vida é maravilhosa, sendo ele o culpado de sua tristeza e revolta. Chegou em casa todavia mais preocupado, como se não bastasse o nível de tensão sobrenatural estava já pensando no dia seguinte, documentos importantes à serem entregues na empresa filial, reuniões primordiais para o crescimento da empresa, novos produtos a serem criados e lançados no mercado. Nem cumprimentou a esposa e foi banhar-se, jantou rapidamente o pouco de fome que se lhe deparava nas entranhas e logo postou-se no computador a trabalhar, trabalhou por duas horam em diversos projetos quando à uma hora terminou estava contundentem,ente exaurido de tudo, sim, do conjunto de situações que se acumularam no decorrer do dia, por momentos aqueles pensamentos sombrios lhe sobressaltaram os lobos diversos do cérebro, provocando sensações de desalento e molesa, não sabia muito que fazer, quando entrou no quarto a esposa já dormia, e nem tempo de falar com ela tivera, o que lhe pareceu uma insanidade, já que concluiu que a empresa evoluia enquanto ele denegria a si mesmo. Nós expectadores externos, podemos ter o privilégio não só de penetrar em sua casa e ver que faz senão em seus próprios pensamentos, o que é uma vantagem adicional na busca dos motivos mais imersos de sua realidade, é isto que muitas vezes faz um conto ser mais interessante que um “Reality Show”, sim, sim, supostamente estamos percrustando as sendas mais dialéticas da mente humana, que as aparências empíricas do mundo.

      É horrivel isto: trabalho, trabalho, trabalho. Até que enfim me dei conta de que o ócio proporciona a libredade do pensar, e o lazer de um periodo de descanço e provceito, minha esposa nem me deu bola, ou melhor: fuyi eu que nem a cumprimentei direito. Terrível, minha alma se entorpece em sentimentos confusos, pois a vida cai num terreno escuro, gélido, confuso. Há muito minha vida não tem sentido certo. Afinal: O que é vida? Vivemos para construir uma quantia enorme de bens e capital? De que adianta tudo isto se a alma morre aos poucos, e vai desistindo de viver, vai abaixando cada vez mais até ficar olhando o chão e andando sem sentido, pois não mais enxerga o que vai à frente. Almas perdidas, é isto que somos, almas extranhas a sí mesmo. Ó tristeza que me assola o coração. Haverá um despertar? Em meio à esta obscuridade de meu quarto, com toda aquela papelada lá no escritório me pergunto de que serve tudo aquilo. Tudo deveria ser mais simples, como, como... Sei lá, talvez como São Francisco de Assis, é, esquecer tudo isto e curtir a natureza em sua essência mais simples e sincera. Tenho saudades de meus tempos de moleque, quando subia nas árvores e fazia castelos de areia, naqueles tempos a vida parecia ser mais alegra e espontânea tudo tinha mais sentido. Minhas palpebras estão caíndo, acho que o sono está me vençendo, é de fato...

      Assim nosso personagem cai num sono letárgico e confuso, tendo em sí imagens de grande s pintores, conversava com muitos pintores, trocando idéias complexas à respeito de estilos e técnicas, depois teve a sensação de que o mundo era uma pintura, tudo o que existisse era misteriosamente colorido, os movimentos eram compostos por novas pinturas que ocorriam numa tela de proporções infinitas, e quem tivesse um pincel e tintas na mão era considerado um semi-deus e podia criar um monte de coisas no mundo, conforme a criatividade era manejada. Então ele passou a querer um pincel a todo custo, e passou a correr por campos pintados, castelos, cidades, selvas, pessoas e um monte de pinturas do mundo até que por fim encontrou um benévolo homem que lhe forneceu um pinceu, assim que teve a aquisição deste poderoso instrumento ficom extasiado, com um brilho no olhar que há muito não sentia, a felicidade lhe vasava dos lábios e os cabelos se tornaram revoltos diante de uma genialidade enevoante, era todo sorrisos, era gargalhada, saiu aos saltos pintando muitas coisas interessantes que lhe vinham à imaginação. Tornou-se um adulto com gênio de criança e sabedoria de idoso. Acordou como se ainda estivesse dormindo, seus lábios tinham uma postura de alegria total, a esposa, ao ver-lhe naquela situação perguntou qual era o motivo de tal alegria, e ele respondeu:

-             Minha alegria mulher, é provinda de um lugar mais próximo do que pudera eu imagirar em tanto tempo, da essência de min mesmo, é em min que está contida toda esta vontade de viver e encontrar o que há de melhor dentro de min e pintar no mundo, criando minha própria realidade no mundo, e não me submetendo às exigências que o mundo impõe de maneira forçosa. É isto, este é o motivo...

      De fato, aquela situação não era nada comum na vida de Américo, aliás era quase utópica, só não era utópica porque todo ser humano guarda dentro de si belezas inimagináveis. Que Américo decidiu fazer o curso de pintura julgo que não precisar-se-á aqui dizer, dado a inteligência e perscicácia do leitor prodígio. Foi então que o tormento se transformou em vida, e a vida vista como inigualável e constante novidade, arte, magia e por fim: Amor!

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